sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Empresários e governantes discutem biogás como alternativa de combustível para transporte público

Além de promover a discussão sobre o assunto, o seminário teve como objetivo estimular parcerias para executar a ideia. Foto: Jessica Marques
Evento para tratar do assunto foi realizado nesta semana no auditório da Sabesp
JESSICA MARQUES
É possível utilizar gases gerados a partir de resíduos sólidos para mover veículos pesados no Brasil. Foi o que mostraram os expositores no seminário Biogás — Uma Cadeia Sustentável para o Transporte Público.
O seminário reuniu governantes e empresários para discutir o biogás como uma alternativa para mover os ônibus do transporte coletivo.
O evento foi realizado nesta segunda-feira, 27 de novembro, no auditório da Sabesp, na capital paulista. Além de promover a discussão sobre o assunto, o seminário teve como objetivo estimular parcerias para executar a ideia.
A discussão faz parte das ações das Semanas de Inovação Suécia-Brasil, organizado pela embaixada sueca. Na ocasião, representantes do país apresentaram o projeto existente na Suécia e alternativas para a implantação do biogás como combustível para o transporte público brasileiro.
Diário do Transporte acompanhou a discussão e, segundo os expositores, o uso do biogás já é uma realidade no país. Com as palestras, diversas dúvidas foram esclarecidas e alternativas discutidas para implantar a forma de abastecimento em veículos pesados do transporte coletivo.
Conforme apresentado por representantes da embaixada sueca no evento, há décadas a Suécia direciona a maior parte do biogás que é produzido no país para o transporte público. Desta forma, 90% da rede de gás veicular opera com biometano.
Segundo Elsa Stefenson,  gerente de projetos da Business Sweden, a Suécia começou a perceber a necessidade de utilizar o biometano na década de 1970. A viabilidade ocorreu por meio de uma cooperação entre o governo, universidades e a indústria.
“Começaram a ser estudadas alternativas para o petróleo, um combustível fóssil. O biometano foi identificado como uma excelente alternativa e então se começou a utilizar o que já se fazia na época, que era redirecionar o lodo da estação de tratamento de esgoto para a produção do biogás”,contou Elsa.
A partir dessa experiência sueca, durante o evento foi feito um paralelo com a dependência que os veículos pesados brasileiros têm do diesel. Uma grande referência foi a greve dos caminhoneiros por conta do valor do combustível, em maio.
Com base neste desafio, foram apresentadas diversas alternativas para viabilizar o uso do gás biometano no transporte público brasileiro, uma vez que, na avaliação de especialistas, o país tem estrutura para utilizar esse tipo de combustível.
Para mostrar o quanto o país está perto da realidade de utilizar o biometano para abastecer ônibus, a Scania, também presente no evento, trouxe à Sabesp o primeiro ônibus do Brasil abastecido a gás gerado a partir do esgoto.
O veículo foi apresentado em Franca, no interior de São Paulo, em 12 de novembro de 2018. O ônibus é um Scania K280 6×2 de 15 metros, que participou de uma demonstração feita em parceria com a Sabesp, a Embaixada da Suécia e a Business Sweden.
Segundo Elsa, da mesma forma que a Scania e a Sabesp se uniram para conseguir mover um ônibus a biometano em Franca, é possível que governos e empresas se juntem para criar um projeto em maior escala, inclusive com o suporte da Suécia, que possui especialidade na área.
O seminário contou com a presença da Scania, Prefeitura de São Paulo, USP, SPTrans, EMTU, Gás Brasiliano, ABiogás, ILV (Instituto de Pesquisa Ambiental da Suécia), KTH (Instituto Real de Tecnologia de Estocolmo), Linköping University, Arsesp, Raízen, Comgás e Emdec (Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas).
COMO FUNCIONA
No processo para gerar o biometano, o biogás gerado no tratamento do esgoto passa por um sistema de remoção das impurezas, umidade e aumento da concentração de metano.
O resultado é um combustível, o biometano, que é usado no lugar na gasolina, do álcool e do GNV (gás natural veicular).
“O biometano é uma fonte de energia que pode ser utilizada para várias coisas, mas nós optamos por utilizar para abastecimento veicular em carros pequenos. Agora, a Scania, que é uma fabricante de caminhões e ônibus, entrou em contato com a gente para fazer um acordo e trazer esse ônibus como demonstração. Como é algo muito novo, a população precisa ver para acreditar que gás de esgoto vira combustível”, disse João Comparini, engenheiro civil da Sabesp, responsável pelo projeto de Franca.
O biogás não pode ser utilizado como combustível por possuir elementos corrosivos. Por esse motivo, deve passar por um processo em que há um aumento na concentração de metano e remoção de impurezas. Desta forma, o biometano passa a poder ser utilizado para abastecer veículos que possuem motor movido a gás.
Segundo a pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo) Dominique Mouette, o uso do biometano como combustível resolveria diversos problemas no transporte brasileiro.
“Atualmente, os principais problemas são o alto custo para a operação e o preço do diesel, que geram uma tarifa alta, que resulta em exclusão social”, disse.
Confira abaixo os benefícios projetados para o uso do biometano como combustível, segundo a pesquisadora:
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VIABILIDADE NO BRASIL
Para o setor de transportes, o biogás pode se fortalecer a partir de 2022 no estado de São Paulo, com expectativa de crescimento constante para os próximos anos, segundo o subsecretário de Energias Renováveis da Secretaria de Energia e Mineração do Estado de São Paulo, presente no evento.
O gerente executivo da ABiogás, Alessandro Sanches, informou ao Diário do Transporte que já existem plantas significativas de geração de biometano no Brasil.
Um exemplo disso, citado pelo executivo, foi o teste feito pela Audi no Paraná nesta segunda-feira. A empresa esteve na planta da GEO Energética em Tamboara, no Paraná, para testar o A5 Sportback g-tron abastecido com biometano brasileiro.
Neste caso, o gás produzido pela Acesa Bioenergia é obtido a partir do biogás produzido pela GEO por meio da reciclagem dos resíduos da cana de açúcar da Coopcana (Cooperativa Agrícola Regional de Produtores de Cana Ltda).
A GEO Energética iniciou as pesquisas de campo para o desenvolvimento da tecnologia de produção de energia e biogás a partir dos resíduos da cana-de-açúcar em 2006.
Em parceria com a Coopcana para o fornecimento dos resíduos, em 2011 implementou sua primeira planta comercial numa área de dez hectares no noroeste do Paraná, com capacidade instalada para gerar 4 Mws de energia elétrica a partir da reciclagem da vinhaça, torta de filtro e palha.
“As metas da ABiogás para o crescimento do consumo de biometano são realistas, mas são ousadas”, disse Sanches. “Há um grande potencial no Brasil e produzir o biometano não é um desafio, mas uma oportunidade”, concluiu.
Confira abaixo dados dos empreendimentos produzindo biometano no país, segundo a ABiogás:
Em termos de capacidade, existem os seguintes empreendimentos no Brasil:
  • GNR Fortaleza: 80 mil m³/dia biometano imediato (com expansão prevista para 150 mil m³/dia. Entretanto produz em torno de 75 mil m³/dia);
  • GNR Dois Arcos: 15 mil m³/dia de biometano imediato (mas está produzindo entre 10 e 12 mil m³/dia);
  • Tamboara: 3 mil m³/dia de biometano (Sem dados precisos pois, necessita maior tempo de atividade);
  • Gás Verde: 90 mil m³/dia de biometano imediato (mas está produzindo 30 mil m³/dia).
Outros empreendimentos em fase de implantação:
  • GNR Espírito Santo: 60 mil m³/dia de biometano;
  • UTER Carlos Barbosa: 35 mil m³/dia de biometano;
  • UTER Fazenda Vilanova: 35 mil m³/dia de biometano.
PROJETO PILOTO EM FORTALEZA
A prefeitura de Fortaleza anunciou que a cidade deve iniciar a partir do próximo ano um projeto piloto de abastecimento de ônibus com biometano, gás obtido na decomposição de resíduos.
O anúncio foi feito pelo prefeito Roberto Cláudio, que esteve nesta segunda-feira, 26 de novembro de 2018, na sede da fabricante de ônibus Scania, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.
Jessica Marques para o Diário do Transporte

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