terça-feira, 16 de outubro de 2018

Prefeitura do Rio de Janeiro suspeita de irregularidades em obras do BRT Transcarioca

BRT Transcarioca com pistas esburacadas. Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo – Clique para ampliar
Segundo Marcelo Crivella, projeto não foi e há a possiblidade de pagamentos por materiais que sequer foram empregados
ADAMO BAZANI
Com agências
Pavimento com espessura abaixo do padrão adequado, ausência de materiais como barras de ligação e telas de ferro são algumas das irregularidades que podem ter causado prejuízos à população do Rio de Janeiro nas obras do BRT Transcarioca, que tem 39 km de extensão.
Em entrevista coletiva na manhã desta terça-feira, 16 de outubro de 2018, o prefeito Marcelo Crivella e o secretário municipal de Habitação e Infraestrutura, Sebastião Bruno, disseram que a administração realizou vistorias entre os dias 5 e 13 deste mês no sistema de ônibus e encontrou indícios de superfaturamento e desvios de recursos.
Somente em concreto, a estimativa é de que tenham sido pagos a mais do que foi realmente usado,  em torno de R$ 15 milhões.
“Não quero dizer se foi corrupção. Pagamos R$ 2 bilhões em uma obra que está cheia de problemas. Não encontramos nada do que foi especificado no projeto”, disse em entrevista coletiva Crivella, que ainda afirmou que constatada a possibilidade de crime, vai encaminhar o caso ao Ministério Público após sete dias de investigação interna.
O procurador geral do Município, Carlos Antonio de Sá, disse que há indícios de conluio entre fiscais que resultaram numa obra de má qualidade.
“Vamos abrir uma sindicância para apurar os funcionários que deveriam fiscalizar e não fiscalizaram. Há indícios que houve o conluio de fiscais. No entanto, se houve corrupção ou não, é a Justiça quem vai decidir”
Segundo a inspeção, na maior parte dos 39 km de vias, a espessura é de 24 cm, sendo que para ônibus, o ideal seriam, no mínimo, 30 cm de concreto.
Na região da estação Ibiapina, na Penha, o pavimento tem apenas 15 cm de espessura e não há ferragem para amarração do concreto.
As obras foram de responsabilidade do consórcio composto pelas empresas Andrade Gutierrez, OAS, Carioca Engenharia e Conter na gestão do então prefeito Eduardo Paes, candidato ao Governo do Rio de Janeiro.
Em outras ocasiões, Paes disse apoiar investigações sobre eventuais irregularidades e que as construtoras devem prestar esclarecimentos.
Já as construtoras dizem que colaborarão no que for necessário com as autoridades.
As vistorias foram realizadas pela prefeitura após o Consórcio BRT Rio ter entrado na Justiça contra a prefeitura apontando que os ônibus têm quebrado por causa das más condições do viário, o que causaria prejuízos e desequilíbrio econômico no contrato.
Além disso, em delação premiada, o ex-secretário de obras, Alexandre Pinto, da gestão Paes, época da construção do Transcarioca, diz que recebia 3% do valor dos contratos como propina e que as obas do corredor de ônibus estavam neste pacote.
O ex-secretário foi condenado na semana passada pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal a 23 anos, cinco meses de prisão e dez dias de prisão.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

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