Presidente da companhia fala da importância de empresas públicas de transportes nos dias de hoje e afirma que contas da companhia estão saneadas
ADAMO BAZANI
A TCB – Sociedade de Transportes Coletivos de Brasília Ltda., empresa pública da capital federal, vai comprar seis ônibus elétricos para operar no sistema.
A informação foi revelada ao Diário do Transporte pelo presidente da companhia, André Brandão.
Por se tratar de uma empresa pública de economia mista, a compra será por meio de licitação.
O edital deve ser lançado nesta semana. A autorização para a concorrência foi concedida na última sexta-feira, 17.
André Brandão disse que serão licitados os ônibus completos: chassi e carroceria. Fabricantes de chassis e carrocerias são diferentes no Brasil, portanto, devem apresentar modelos já combinados para disputar a concorrência.
A promessa de compra de ônibus elétricos tinha sido feita quando André Brandão tomou posse da presidência da TCB, em 26 de outubro de 2017, conforme noticiou o Diário do Transporte na ocasião. Relembre:
A declaração foi dada em entrevista neste último sábado, 17 de março de 2018, durante a abertura do 8° Fórum Mundial da Água, quando ocorreu a apresentação de um dos dois ônibus elétricos comprados pela concessionária Viação Piracicabana. O evento teve cobertura no loco do Diário do Transporte. Veja neste link:
Os ônibus comprados pela companhia do Grupo Comporte são de carroceria Marcopolo modelo Torino e; chassi, baterias e equipamentos da BYD modelo DW9, mas Brandão afirmou que outras marcas interessadas podem participar.
Brandão ainda afirmou que as operações destes seis ônibus elétricos serão nas linhas hoje de responsabilidade da TCB.
“Hoje a TCB opera 12 linhas. As principais linhas do centro de Brasília, Esplanada dos Ministérios, é a TCB que faz a operação. Então estes ônibus vão estar sendo vistos rodando no centro de Brasília. Rodoviária/Esplanada dos Ministérios, que é o circular que nós temos” – explicou
A EMPRESA PÚBLICA HOJE E CONTAS SANEADAS:
André Brandão garantiu que as contas da TCB foram saneadas. A empresa estava endividada e com parte da frota sucateada, sem recursos para manutenção. O Governo do Distrito Federal diz que conseguiu no ano passado quitar uma dívida dos anos 1990, referente a recolhimentos do INSS que não foram realizados pela companhia pública. O débito chegava a R$ 800 mil por parcela mensal, apenas para amortização.
Em fevereiro de 2018, a TCB reconheceu uma dívida de R$ 650 mil referentes a horas extras que não foram pagas a 154 trabalhadores desde 2015. A empresa fez um cronograma de pagamentos. Relembre:
André Brandão disse que hoje a TCB é superavitária porque o GDF – Governo do Distrito Federal assumiu os custos com os funcionários.
“Todas as finanças da TCB estão saneadas. Antigamente a empresa dependia da receita própria para pagar os funcionários. Hoje o Governo de Brasília paga os funcionários. Então, este superávit que nós temos, nós reinvestimos em benefícios para a comunidade” – disse.
O presidente da TCB ainda afirmou ao Diário do Transporte que empresa volta a assumir o papel de companhia pública de transportes que, segundo o executivo, deve ser de “laboratório para a mobilidade”.
“A gente tenta trazer para a TCB hoje o seguinte: o forte dela não é nem tanto o transporte, mas um laboratório de inovação do transporte público” – ao se referir que por intermédio de uma empresa pública, o governo pode assumir e auditar os resultados dos investimentos que hoje a iniciativa privada diz que não tem apoio e incentivo para fazer.
Pela lógica, segundo Brandão, o poder público assume o investimento de teste e inserção de novas tecnologias, mas sem conceder benefícios diretos aos empresários de ônibus. Os benefícios seriam depois, com o barateamento das tecnologias após os testes e o ganho de escala devido às compras das empresas públicas.
“Muitas vezes vem a inovação. Como a empresa privada visa lucro, muitas vezes não quer investir porque de alguma forma vai mexer no balanço da empresa. Como nós temos um superávit que é para ser reinvestido, a gente entra com a inovação. Aí, a tecnologia começa a ser vista pela iniciativa privada como viável, por exemplo, o ônibus 100 % elétrico”
O presidente da TCB cita alguns exemplos ao longo da história da companhia.
“A TCB é uma empresa pública e não pode tomar posse lucro [como a empresa privada]. O lucro da TCB é em benefício da população. Quando a empresa pública é superavitária, a gente começa a investir em inovação. A TCB, por exemplo, foi a que começou o câmbio automático para ônibus urbanos entre 1991 e 1992. As empresas particulares não tinham câmbio automático e a TCB assumiu isso. Ônibus urbanos com motor traseiro, nós que começamos.” – lembrou.
A TCB foi fundada em 8 de maio de 1961 e iniciou as operações em 1º de junho daquele ano.
Ao longo da história, outras empresas públicas foram responsáveis pela introdução de novas tecnologias. A maior parte de todos os sistemas de trólebus introduzidos no País foi por empresas pública de transportes.
A CMTC – Companhia Municipal de Transportes Coletivos, da capital paulista, foi a maior empresa pública do setor da América Latina, sendo responsável por testar e incentivar (ou até mesmo descartar) inovações tecnológicas em cada época.
Alguns exemplos de investimentos em tecnologia pela CMTC foram: trólebus em 1949; papa-fila (precursor do ônibus articulado) nos anos 1950; carrocerias urbanas com mais elementos de alumínio nos anos 1960; nova geração de trólebus no Projeto Sistran em 1978; elevadores para cadeira de rodas em ônibus nos anos da década de 1980; ônibus movidos a etanol e a biometano (gás obtido na decomposição do lixo) também nos anos 1980; ônibus de dois andares em 1987; ônibus a Gás Natural nos anos 1990; primeiras grandes compras de articulados no início dos anos 1990; além de modelos diferenciados de remuneração das empresas particulares, reformulação de linhas e prestações de serviços.
Brandão entende que para as operações, as empresas privadas têm o papel fundamental e não acredita hoje ser possível apenas empresas públicas operando. Para o executivo, os casos de fracassos que levaram às privatizações de diversas companhias em todo o País não estão relacionados ao fato de as empresas terem sido públicas ou às afirmações de que o Estado não sabe ser operador, mas à má gestão e fiscalização dos entes públicos.
“A empresa pública é viável quando é para benefício da população e laboratório. Se não for para isso, eu não vejo viabilidade. Mas quando a companhia pública entrega à população serviços que as empresas convencionais privadas não fazem, aí o Estado tem de intervir” – completou.
OUÇA A ENTREVISTA:
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes
Fonte: Diário do Transporte
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