quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Maioria da população é contra privatização do Bilhete Único e retirada dos cobradores, diz pesquisa


Passageiros acreditam que prioridade aos ônibus é solução
Mais da metade dos paulistanos acredita que a principal medida do poder público para melhorar a mobilidade é aperfeiçoar o sistema de ônibus
ADAMO BAZANI
Diante da licitação dos transportes coletivos na cidade de São Paulo e do programa de desestatização capitaneado pelo prefeito João Doria, a maioria dos paulistanos é contra a concessão do Bilhete Único para a iniciativa privada e contra a retirada dos cobradores dos ônibus.
É o que aponta a 11ª edição da  pesquisa de Mobilidade realizada pela Rede Nossa São Paulo e Ibope Inteligência que ouviu 1603 moradores com idades iguais ou superiores a 16 anos em todas as regiões da cidade entre os dias 27 de agosto e 11 de setembro.
De acordo com os resultados divulgados na manhã desta quarta-feira, 20,  75% dos entrevistados são contrários à retirada de cobradores dos ônibus.  Apenas 19% são favoráveis à medida. Já 61% desaprovam a privatização do Bilhete Único. 31% são favoráveis à medida.
O paulistano, segundo a pesquisa, ainda acredita que o poder público municipal é o principal responsável para melhorar a qualidade dos ônibus.
Aumentaram de 41% para 52% os que consideram “melhorar a qualidade do transporte por ônibus” a principal medida a ser adotada pelo poder público para a mobilidade.
Continua alta a aprovação às faixas e corredores de ônibus, mesmo entre os usuários de carro: 7% são favoráveis à implementação ou ampliação de corredores e faixas exclusivas de ônibus – entre os usuários de carro, o percentual é um pouco menor: 82%. A abertura eventual de ruas para o lazer de pedestres e ciclistas, como acontece na Avenida Paulista, tem o apoio de 74% dos entrevistados – 69% entre usuários de carro.  E 71% são a favor da ampliação e construção de ciclovias e ciclofaixas – entre os usuários de carro, os apoiadores são 67%.
A pior nota para o sistema foi em relação ao risco de assédio sexual nos ônibus: 2,6, de uma escala de 1 a 10.  Os usuários avaliam como principais problemas dos ônibus municipais a lotação (23%), o preço da tarifa (20%), a segurança com relação a furtos e roubos (11%), a frequência do ônibus (9%), a segurança com relação ao assédio e a pontualidade dos ônibus (ambos com 7% das citações).
Confira alguns dos principais resultadis:
  • nível de satisfação com aspectos e áreas dos serviços de locomoção em São Paulo piorou em todos os itens, contrariando uma tendência de melhora que vinha sendo registrada desde 2008. A pior nota ficou para “situação do trânsito na cidade”, que caiu 3,2 para 2,7.
  • Faixas de pedestres: para 42% dos paulistanos, elas estão sendo menos respeitadas, enquanto que, para 23% as faixas têm sido mais respeitadas.
  • meio de transporte de uso mais frequente é o ônibus municipal, em primeiro lugar com 47%, seguido do carro (22%), metrô (13%), a pé (8%), trem (4%), transporte particular (Uber, 99 etc.) (2%), ônibus fretado ou intermunicipal (1%), motocicleta (1%) e bicicleta (1%).  A freqüência de utilização dos ônibus municipais é alta: 39% o utilizam 5 ou mais dias por semana. São 8% os paulistanos que afirmam nunca utilizar ônibus municipal.
  • A adesão ao ônibus como meio de transporte mais frequente não significa aprovação dos serviços. Todos os itens avaliados nos ônibus municipais pela pesquisa ficaram abaixo da média em uma escala de 1 (péssimo) a 10 (ótimo), com notas que variam de 2,6 (para segurança com relação a assédio sexual) a 4,1 (tempo de duração da viagem).  Os usuários avaliam como principais problemas dos ônibus municipais a lotação (23%), o preço da tarifa (20%), a segurança com relação a furtos e roubos (11%), a frequência do ônibus (9%), a segurança com relação ao assédio e a pontualidade dos ônibus (ambos com 7% das citações).
  • Segurança é também o principal entrave à adesão da bicicleta:  58% sentem-se pouco ou nada seguros ao utilizar as ciclovias ou ciclofaixas de São Paulo e 33% nunca utilizaram esses espaços. Entre os principais aspectos que mais afetam a vontade de usar as ciclovias e ciclofaixas estão os roubos e furtos e o desrespeito dos motoristas (31% e 20%, respectivamente, sempre considerando a soma das menções).
  • O percentual de usuários de ônibus poderia ser ainda maior se o transporte público fosse de melhor qualidade.  80% dos paulistanos “com certeza” ou “provavelmente” deixariam de utilizar o carro se tivessem “melhor alternativa de transporte“. O número supera o da pesquisa anterior, que estava em 74%. Os que “não deixariam” de usar o carro mesmo com uma boa alternativa de transporte caíram de 18% para 9%.
  • Aumentou de 41% para 52% os que consideram “melhorar a qualidade do transporte por ônibus” a principal medida a ser adotada pelo poder público para a mobilidade.
  • 87% são favoráveis à implementação ou ampliação de corredores e faixas exclusivas de ônibus – entre os usuários de carro, o percentual é um pouco menor: 82%. A abertura eventual de ruas para o lazer de pedestres e ciclistas, como acontece na Avenida Paulista, tem o apoio de 74% dos entrevistados – 69% entre usuários de carro.  E 71% são a favor da ampliação e construção de ciclovias e ciclofaixas – entre os usuários de carro, os apoiadores são 67%.
  • Houve ligeira queda na posse do automóvel: 56% afirmam ter carro em casa – 4% abaixo do registrado nos últimos anos. A mudança é mais acentuada nas faixas mais baixas de renda familiar mensal:  entre os que recebem até 2 salários mínimos, o percentual passou de 43% para 30%; entre 2 e 5 salários mínimos, de 69% para 61%. Em contrapartida, a posse de automóvel entre aqueles com renda familiar mensal acima de 5 salários mínimos se manteve estável em relação a 2016 (eram 86% e hoje são 87%).
  • Sobre a tarifa do transporte público: 52% afirmam que “sempre” ou “às vezes” deixam de visitar amigos ou familiaresque moram em outros bairros por conta do preço da passagem; mesmo percentual afirma que deixa de ir a parques, cinemas e outras atividades de lazer; 42% não fazem consultas médicas e exames e 28% deixam de ir à escola ou universidade.  A economia proporcionada pelo Bilhete Único é, no entanto, a principal razão de uso (23%) entre quem utiliza o ônibus pelo menos uma vez por semana. Em seguida, tem-se ‘a melhor alternativa pra o trajeto que precisa fazer’ (18%), ‘por não possuir carro’ (17%) e, em outro patamar, ‘por causa dos corredores e faixas exclusivas’ (9%).  Entre os que nãoutilizam ônibus municipal ou usam com frequência menor do que 2 dias por semana, o motivo mais importante para isso é: 20% usam o carro, 11% alegam que o trajeto do ônibus é muito demorado, 10% que não precisam usar ônibus, mesmo parcela de entrevistados diz que os ônibus são muito lotados e 9% consideram que outro tipo de transporte é mais rápido.
  • 75% dos entrevistados são contrários à retirada de cobradores dos ônibus. Apenas 19% são favoráveis à medida.
  • 61% desaprovam a privatização do Bilhete Único. 31% são favoráveis à medida.
Dados adicionais:
  • Com relação a tempo de deslocamento, a troca do carro pelo ônibus não o afeta significativamente.  O tempo médio gasto no trânsito para realizar todos os deslocamentos diários ficou em 2h53. No ano passado, eram 2h58. Entre quem usa carro todos ou quase todos os dias, o tempo médio ficou em 3h09. Entre quem utiliza transporte público, 3h12.
  • Também não há diferenças significativas entre usuários de ônibus e de automóvel no tempo médio diário de deslocamentopara a atividade principal.  A média ficou em 2h00. No ano passado, era 2h01. Em 2017, 34% dos paulistanos gastam entre 1 e 2 horas para ir e voltar do trabalho ou escola. Entre os que usam carro todos ou quase todos os dias, a média ficou em 2h02. Entre os usuários de transporte público, 2h11. Destaca-se que 17% dos entrevistados afirmaram que estudam ou trabalham em casa ou não precisam sair de casa.
  • 45% dizem que o tempo médio de espera no ponto de ônibus varia de mais de 5 a 15 minutos, enquanto 35% declaram que esperam mais de15 a 30 minutos e11%, mais de 30 a 45 minutos.
  • Percepção sobre o serviço público de ônibus em relação ao ano passado: 52% avaliam que a lotação aumentou, 40% afirmam que o tempo de espera está maior e 39% que o tempo da viagem está maior. Com relação ao conforto, 31% consideram que ele diminuiu no último ano.
  • Percepção sobre o corte de linhas de ônibus: 41% afirmam que não houve cortes, 38% dizem que houve;; e 21% não sabem ou preferem não opinar a respeito.
  • Uso do automóvel: 36% afirmam utilizá-lo “todos os dias” ou “quase todos os dias”, seja dirigindo ou de carona/táxi/aplicativos (como Uber, Cabify, EasyTaxi e 99); 36%, “de vez em quando”; 17%, “raramente”. 11% não o utilizam.
  • frequência do uso do automóvel nos últimos 12 meses que quase 4 em cada 10 entrevistados (38%) dizem que usam o carro com “menor frequência”; parcela semelhante diz usar com “frequência igual”; e cerca de 2 em cada 10 (22%) usam o automóvel com “maior frequência”.
  • Aumento das velocidades máximas nas marginais: 56% são favoráveis, enquanto 38% são contra. No entanto, 40% acreditam que a medida contribui muito para os acidentes de trânsito envolvendo motoristas e motociclistas; 37%, para os atropelamentos de pedestres e ciclistas; e outros 37%, para as mortes no trânsito.
  • Poluição: 59% dos entrevistados afirmam que tiveram problemas de saúde (ou alguém da sua casa) relacionados à poluição do ar. No ano passado, eram 64%.
  • “Saúde” continua em primeiro lugar desde 2008 como a “área mais problemática da cidade“, com 71% de menções (um aumento em relação ao ano passado, que contabilizou 58% do total menções). Em segundo lugar, “segurança pública” tem 45% das menções, “educação” (44%), “desemprego” (42%) e, em outro patamar, “transporte coletivo” (24%) e “trânsito” (17%).
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

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