sábado, 2 de setembro de 2017

Ônibus elétrico em São Paulo será realidade, mas falta definir remuneração, diz fabricante

Ônibus vai entrar em operação quase dois meses depois de apresentação por Doria
BYD anunciou produção de novo chassi que também servirá para ônibus rodoviários
ADAMO BAZANI
A implantação de uma frota de 60 ônibus na cidade de São Paulo movidos à eletricidade, anunciada em 14 de julho pelo prefeito João Doria ainda está indefinida. A promessa era de que o primeiro veículo circulasse em 31 de julho.
O modelo apresentado na sede da Prefeitura recebeu apenas há poucos dias o registro do Denatram e é o único veículo fabricado até agora, finalmente poderá transportar passageiros.
Mas a inclusão de uma frota de fato, depende de acertos principalmente a respeito da remuneração, ou seja, quanto a empresa vai receber para cobrir os custos maiores do modelo, em especial relacionados à aquisição, já que este tipo de ônibus é mais caro que os similares movidos a óleo diesel.
A demora entre o anúncio de Doria, o processo para obtenção do Renavam e as indefinições sobre o custo dos ônibus elétricos no sistema levantaram dúvidas sobre se as 60 unidades não passaram apenas de um anúncio de marketing ou se podem realmente estarão prestando serviços na cidade.
Em entrevista ao Diário do Transporte, o vice-presidente de vendas da BYD, empresa chinesa que tem unidade em Campinas, interior de São Paulo, e que fabrica chassis, motores e componentes de ônibus elétricos, Wagner Rigon, afirmou que a Ambiental Transportes, responsável pela operação, mostrou interesse formal nos veículos, mas que enquanto não for definida a tarifa-técnica (o custo ao sistema e não custo ao passageiro que paga a tarifa pública), não há como falar em prazos para a entrega dos ônibus, mais unidades, estrutura de carregamento de baterias e início das operações
“O projeto foi conversado com a empresa, há um interesse real [da Ambiental Transportes] de substituir os ônibus a diesel pelos ônibus elétricos, mas não é uma questão só de vontade, porque é necessário atender a demanda, as questões técnicas e operacionais da SPTrans. Então foi colocado oficialmente um pedido de intenção de compra e agora está sendo analisada a questão de remuneração. É um produto de 15 anos para operar na cidade de São Paulo, pela sua durabilidade, é um tempo curto e têm de ser avaliadas as questões de manutenção, custos de operação. Estes números ainda não são muito assertivos por parte do órgão gestor, a SPTrans, que está tendo um cuidado, uma avaliação com mais profundidade, para entender e fazer uma remuneração mais adequada para o operador” – disse o executivo que garantiu que a intenção também é a instalação de painéis solares na garagem para gerar energia elétrica e realimentar as baterias.
Wagner Rigon ainda disse que não haveria nenhum problema de a compra ser realizada antes da licitação dos transportes porque existe uma cláusula contratual que prevê que, se eventualmente a atual operadora não continue no sistema, a nova assumiria os investimentos, como o ocorreu com os trólebus em 2012 e 2013. Rigon ainda disse que os veículos elétricos substituirão os ônibus a diesel, e não os trólebus. Haverá também elétricos articulados.
CHASSIS PARA ÔNIBUS RODOVIÁRIOS ELÉTRICOS:O vice-presidente de vendas da BYD, Wagner Rigon, também disse ao Diário do Transporte que a partir de outubro, a planta de Campinas começa a fabricar um modelo de chassi para configuração de piso alto, o BYD D 9A .
A plataforma poderá ser usada em operações urbanas que não comportem piso baixo ou com estações com plataformas no mesmo nível do assoalho da carroceria.
Rigon também explicou que o chassi poderá ser usado também por empresas interessadas em operar ônibus rodoviários elétricos, principalmente em trajetos de cerca de 300 quilômetros, a autonomia estimada das baterias.
“Não precisa alterar muito para usar o chassi para aplicações rodoviárias em relação às urbanas. Conseguimos trocar a relação, o diferencial mais longo. Até o fim do ano, estaremos apresentando este produto ao mercado” – contou.
Hoje a planta produz o D9W (padron com piso baixo) e D7M (micro-ônibus). Além do D 9A , devem ser produzidos em Campinas, o D 11M (articulado piso baixo) e o 10A (de 15 metros e três eixos).
VENDAS:
Atualmente, em operação comercial, há apenas dez ônibus elétricos de 12 metros (padrons) da BYD em Campinas, pela empresa Itajaí, e um micro-ônibus em Santos, pela empresa Viação Piracicabana.
A empresa está negociações para vender ônibus elétricos em Belém; quatro unidades para Salvador (podendo subir o número para seis); 25 para Belo Horizonte , além de mais 30 unidades para a Itajaí, de Campinas, que aguarda a decisão sobre se as vias por onde os veículos trafegam vão receber corredor de ônibus com estações que ofereçam embarque em nível (piso alto) ou guias comuns de calçada, o que exigiria ônibus de piso baixo.
O executivo garantiu que o ônibus elétrico não tem apenas mais apelo ambiental, mas, apesar de ser mais caro ainda na aquisição, ao longo da vida útil pode ter custos menores que os ônibus a diesel.
“Hoje o ônibus elétrico é economicamente viável, se for para uma operação de mais longo prazo, é muito econômico, bem superior aos demais. O consumo dele quando comparado com ônibus diesel pode ter até 60% de economia. O ônibus elétrico não é simplesmente um produto ambientalmente correto” disse.
ASSISTA A ENTREVISTA:

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

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