terça-feira, 2 de agosto de 2016

Eletromobilidade só vale a pena se o transporte público receber preferência nos investimentos, diz Greenpeace

Fonte: Blog Ponto de Ônibus

ônibus elétrico
Ônibus elétrico brasileiro. Estudos internacionais mostram que incentivo primeiro deve ser para o transporte coletivo na eletromobilidade.
De acordo com entidade internacional, 10 mil ônibus elétricos trazem mais benefícios que um milhão de carros com a mesma propulsão. Institutos oficiais confirmam prejuízos à mobilidade por incentivos fiscais a carros elétricos
ADAMO BAZANI
Com agências internacionais
Os carros elétricos são realmente a solução para o meio ambiente? Dependendo do país, as dúvidas são grandes e assim como em qualquer sistema, o transporte coletivo deve ganhar preferência nos investimentos, mesmo se tratando de veículos que dependem de eletricidade e dispensam os combustíveis fósseis para operar.
A conclusão é da organização ambiental Greenpeace e é avalizada por diversos institutos internacionais de pesquisa.
Segundo o especialista em mobilidade urbana do Greenpeace, Daniel Moser, em entrevista ao jornal alemão Die Welt, uma grande quantidade de carros elétricos para o transporte individual também traz impactos negativos ao meio ambiente e à mobilidade urbana.
O ideal é que os deslocamentos em sistemas sobre pneus sejam feitos em ônibus elétricos ou com outras fontes que não dependem exclusivamente dos combustíveis fósseis.
A preocupação do Greenpeace é que a suposta emissão zero de poluentes se torne uma espécie de “álibi” para as montadoras venderem carros com excessos de incentivo fiscal.
Além de uma quantidade muito grande de carros elétricos não contribuir significativamente para o meio ambiente, pode trazer efeitos negativos para o trânsito.
“10 mil ônibus elétricos rendem tanto quanto 1 milhão de carros”. – disse o especialista ao jornal. – Veja em Die Welt
O UPI – Instituto de Meio Ambiente e Prognósticos da Alemanha – em tradução para o português – confirma a posição do Greenpeace e cita como exemplo a Noruega, que é considerado o país com maior número de veículos movidos a bateria por número de habitantes.
De acordo com a entidade oficial, na Noruega, cresceu a demanda por carros elétricos e como resultado houve uma queda de mais de 80% no uso dos transportes públicos para ir e voltar ao trabalho e para as atividades educacionais.
Por causa disso, não houve ganhos significativos na Noruega do ponto de vista ambiental e os congestionamentos ficaram ainda maiores.
No caso específico da Europa, um dos grandes problemas é a forma como a energia elétrica é gerada.
Segundo balanço do Ifeu – Instituto de Pesquisa de Energia e Meio Ambiente, de Heidelberg, na Alemanha, em estudo que teve início em 2011, o aumento da frota de veículos do transporte individual movidos à eletricidade só vai transferir os impactos negativos ambientais das ruas para as regiões das usinas.
Isso porque, em boa parte do Continente, a eletricidade ainda é gerada a partir de combustíveis fósseis, como queima de petróleo, gás natural e carvão.
Ainda segundo o levantamento, para que um carro elétrico seja menos agressivo ao meio ambiente em comparação a um carro convencional, é necessário percorrer no mínimo 100 mil quilômetros com o veículo.
No caso de países cuja eletricidade é originada em fontes renováveis, como o Brasil, a poluição zero dos veículos de transporte individual elétricos só começaria a partir de 30 mil quilômetros de uso.
Além da geração de energia elétrica ter um impacto ambiental importante, outra preocupação demonstrada pelo Greenpeace e pelos institutos internacionais de meio ambiente é sobre a produção das baterias.
Neste caso, novamente os estudos mostram que é mais vantajoso incentivar primeiro o ônibus elétrico que o carro elétrico, no caso dos transportes sobre pneus. Isso porque a capacidade de transporte do ônibus é bem superior à dos carros, com resultados financeiramente e ambientalmente melhores no transporte coletivo do que no transporte individual.
Ainda segundo o instituto alemão, a produção de um quilowatt/hora de capacidade elétrica gera emissões de 125 quilos de gás carbônico. Uma bateria de 22 quilowatts/hora, como é utilizada em alguns carros de passeio, pode representar a emissão anual de quase três toneladas de dióxido de carbono, isso para atender no máximo quatro pessoas por vez.
Já os ônibus possuem baterias maiores, porém atendem uma quantidade muito superior de pessoas, até 100 em uma viagem.
Na prática, é a mesma lógica que já existe se comparado o ônibus a diesel com os carros movidos à gasolina. O óleo diesel por si só polui mais que a gasolina, mas pela capacidade do transporte de ônibus ser até 17 vezes maior, mesmo movido a diesel, um ônibus traz vantagens ambientais ao substituir tantos carros nas ruas.
Os estudos de institutos governamentais e acadêmicos e a conclusão do Greenpeace mostram que assim como já ocorre em toda a mobilidade, com eletromobilidade não é diferente: os investimentos, os incentivos fiscais e a prioridade devem ser para o transporte coletivo.
A versão em português do jornal traz mais dados sobre este tema tão importante:Deutsche Welle
 Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

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