sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Ciferal Dinossauro foi fabricado até 1987, inclusive com chassi Volvo

Fonte: Mobilidade em foco
Matéria / Texto: Carlos Alberto Ribeiro
Fotos: Acervo Paraíba Bus Team

“Existiu ônibus com carroceria Ciferal, modelo Dinossauro, montado sobre chassi Volvo com motor central? Sobre chassi Scania 11 entre cada 10 busólogos sabe que existiu. Montados sobre chassis Mercedes-Benz, uma pequena minoria também lembra. Basta relembrar dos Tribus 1 da Itapemirim. Mas, e com chassi Volvo? Veja a matéria”.

A Companhia Industrial de Ferro e Alumínio (Ciferal) foi fundada no ano de 1955, tendo como sócios um grupo de empreendedores capitaneados por Fritz Weissman, cidadão de origem austríaca. Foi através da planta industrial da Ciferal que se difundiu no Brasil a fabricação de carrocerias pra ônibus com chapas de alumínio, substituindo a madeira que até então era empregada. Sim, para quem não lembra, não conheceu ou não estudou sobre o assunto, entre 1940 a 1950 quando em solo brasileiro foi começado a produzir as primeiras carrocerias de ônibus, montadas sobre chassi de caminhão, que tinham sua estrutura remontada, as laterais, teto, assoalho, bancos, porta e, caixilhos das janelas, tudo era feito com madeira nobre.

Madeira não era problema naquele tempo. Tampouco existia a legislação rígida de hoje em dia que exige extração de florestas com manejo sustentável, ou seja, florestas plantadas pelo próprio homem. O Brasil era, inclusive, um dos maiores exportadores do mundo de madeira nobre. Tinha em abundância. Era só escolher a de maior durabilidade, menor peso e que mais se adaptava a cada parte da carroceria. O emprego do aço, ferro e alumínio viria somente a partir dos anos 60. A Ciferal teve enorme importância para a introdução do duralumínio e chapas de aço nas carrocerias de ônibus.

Know-how, qualidade, menor peso, era sinônimo de carroceria Ciferal. Tanto é que a maior fabricante do Brasil no final dos anos 40 e decorrer da década de 50, a Eliziário, com planta industrial em Porto Alegre, fabricava ônibus somente com madeira. Para migrar da madeira para o emprego de metais no encarroçamento, diretores da Eliziário visitaram a Ciferal em busca de um acordo de transferência de tecnologia que permitisse o domínio da técnica de fabricar carrocerias com chapas de aço. Assim nasceu no inicio dos anos 60 a carroceria modelo Bi-Campeão Rodoviário Super Luxo, da Eliziário. E quem foi este ônibus na ordem do dia? Praticamente o rei das estradas para linhas de média e longa distância nos anos 60.



Nos anos 60 a Mercedes entrou com tudo no mercado fabricando os seus monoblocos. Além da Eliziário, outras, como a Nicola e Incasel cresceram a olhos vistos. Porém, no início dos anos 70 a Ciferal surpreende tudo e todos novamente, como já o fez na década de 50. Numa época em que prevalecia, cerca de mais de 90% da frota, ônibus de chassi com motor dianteiro, carrocerias de 2,40 metros de largura e altura externa de 2,90 a 3,00 metros, eis que surge um super ônibus. Era o modelo Dinossauro, com carroceria toda em duralumínio, chassi Scania BR115 (motor traseiro) ou B110 (motor dianteiro), os mais potentes do mercado, com 286 cv. Com 13,20 metros de comprimento, 2,57 metros de largura e 3,50 metros de altura. 



Era o gigante das rodoviárias e o rei das estradas. Com efeito, nenhum outro rodava com tanta desenvoltura nas estradas. Sua inspiração para criação veio dos Estados Unidos, dos ônibus norte-americanos. Apresentado no Salão do Automóvel de 1972, logo começou a rodar nas principais linhas da Viação Cometa, como Rio de Janeiro x São Paulo e Curitiba x São Paulo. Outras empresas, como Expresso União, Nacional Expresso, Ouro Branco, Impala, Unida, Soletur, Expresso Araguaia, Soletur, Real Expresso e Itapemirim, foram algumas das empresas que compraram Dino nos anos 70. No decorrer de 1981 a Ciferal sofreu um grande abalo econômico no seu planejamento orçamentário. Como se já não bastasse a inflação galopante e a queda nas vendas de carrocerias, a tradicional fabricante sofreu um baque terrível que culminou na sua falência.







A celeuma do processo de falência foi desencadeada com o cancelamento de uma encomenda de 2.000 carrocerias de trólebus por parte da CMTC (Companhia Municipal de Transporte Coletivo), empresa estatal que operava o transporte coletivo no município de São Paulo. A encomenda, além de vultosa pra época, que também seria nos dias de hoje, aconteceu depois da Ciferal ter investido no aumento da linha de produção, compra de maquinários, contratação de novos funcionários e investimento significativo no aumento do estoque de matéria-prima. O baque foi tão grande que faltou recursos (caixa) até para o pagamento das contas de curto prazo. Com a decretação da falência, a filial de São Paulo, Ciferal Paulista, foi adquirida pela Condor. Em 1984 a Condor também faliu e a sua “massa falida” foi comprada e virou a Thamco.









A Ciferal com planta industrial situada no Rio de Janeiro teve o seu controle acionário assumido pelo governo do Estado, cujo governador Leonel Brizola, com o ato de encampação da empresa, evitou que centenas de empregos fossem extintos numa época de forte crise da economia brasileira. Fala-se nas entrelinhas que o ônibus urbano Ciferal, modelo Padron Briza, antecessor do Padron Alvorada, foi uma homenagem ao governo brizolista. Dessa época, 1981 a 1986, a maioria absoluta dos busólogos, até quem conhece razoavelmente bem do assunto, tem como certo que a exclusividade dos ônibus modelo Dinossauro, que viraram os Flecha Azul, pertenceu a Cometa.

















Ledo engano. Pra quem pensa que somente a Viação Cometa podia comprar os “ex-Dinos” na condição de novos, fabricados pela CMA (Companhia Manufatureira Auxiliar), informo que estão equivocados. A Ciferal, entre 1984 a 1987, também fabricou os Dinossauros. Outra nota: os Dinos não foram montados unicamente sobre chassis Scania. A CMA, sim, somente encarroçava este modelo sobre chassi da marca do grifo. Mas a Ciferal, não. No catálogo de produtos da Ciferal, datado de julho de 1985, consta que o modelo Dinossauro podia ser montado sobre chassis Scania K112CL 4 x 2 e Volvo B58 4 x 2, B58E 4 x 2.

Nenhum comentário:

Postar um comentário