segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Fretamento: setor já vê sinais de crescimento depois de crise

Ônibus indicados para diversos serviços de fretamento em evento da ANTTUR e Fresp com cobertura do Diário do Transporte
Algumas empresas chegaram a registrar até 30% de frota parada, mas indústria já acredita em movimentação de renovação dos ônibus
ADAMO BAZANI
Otimismo, mas com cautela e pés no chão.
Este foi o clima principal percebido entre operadores de ônibus de fretamento, produtores de chassis, de carrocerias e de equipamentos e programas tecnológicos que participam do 18º encontro do setor, que ocorre no Guarujá, litoral paulista, com cobertura do Diário do Transporte. O evento é realizado pela ANTTUR – Associação Nacional dos Transportadores de Turismo e Fretamento (BrasilFret 2017) e pela Fresp –  Federação das Empresas de Transportes de Passageiros por Fretamento do Estado de São Paulo (Encontro de Empresas).
A reportagem conversou com operadores, fabricantes e fornecedores. Todos acreditam que a recuperação já ocorre, mas de maneira gradativa.
O presidente da Fresp e vice-presidente da ANTTUR, Silvio Tamelini, diz que, no caso do setor de fretamento no Estado de São Paulo, o maior nível de atividade industrial será o principal fator para que as empresas de fretamento voltem a contratar funcionários.
A crise econômica também afetou programas governamentais voltados à cultura e educação, atividades que requerem serviços de fretamento.
“Temos parceiros no fretamento que chegaram a ter até 30% de frota parada, porque perderam o contrato. A indústria teve recessão, houve demissões, não houve novos empregos, logo não teve passageiro a ser transportado. Na parte do turismo, que nós chamamos de eventual, o próprio governo do Estado de São Paulo, especificamente, cortou algumas verbas que incentivavam o transporte dos estudantes para os museus, para o “Projeto Cata-Vento” e outros eventos” – relatou Tomelini, que, entretanto, acredita em boas perspectivas para 2018.
“Eu creio que em 2018, tenhamos um sinalzinho quase verde de que a economia está se recuperando e, nesta retomada, eu acredito que nós temos de acreditar que nosso negócio é de extrema necessidade para o segmento, para o trabalhador, para o turista. Nosso setor tem de crescer, tem de renovar, tem de ter criatividade para oferecer um trabalho de eficiência e de satisfação” – acrescentou Tamelini, que é dono da empresa Ipojucatur.
OUÇA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA:
Acreditando nesta recuperação, a indústria ligada ao setor de transportes já se prepara para um ritmo maior de encomendas de chassis, carrocerias e produtos em geral.
“Entre 2013 e 2016, as vendas de ônibus para fretamento quase desapareceram, foi uma queda de 82%.  E essa queda ocorreu ano após ano, não houve oscilações entre melhora e piora. De um mercado de 2500 ônibus, no ano de 2015, por exemplo, foram vendidas 594 unidades. Este ano, são 402 unidades e a queda ainda deve ser de cerca de 15%. Em relação ao fretamento, acreditamos que 2018 seja estável ou com pequeno crescimento, o que não é má notícia, e que em 2019, o crescimento de forma gradativa seja mais sentido” – disse em palestra no evento, o diretor de vendas e marketing ônibus da Mercedes-Benz, Walter Barbosa.
“De 2014 a 2016, foi a pior fase para o fretamento. Uma bola de neve: a indústria demitiu e cortou serviços de fretamento. Já o setor de fretamento, não pode renovar a frota, o que impactou a indústria. Nós mesmos somos exemplos disso. Em Resende, nossa planta tinha três turnos, caiu para um. Com isso, diminuíram os contratos com nosso prestador de serviço de fretamento. Mas os sinais positivos começam a aparecer. Ainda estamos com um turno, mas recontratamos em torno de 160 funcionários. Prospectamos que o crescimento de vendas de chassis para fretamento comece em 2018” – disse o gerente nacional de vendas de ônibus da MAN, Jorge Carrer.
Mas se o fretamento ligado à indústria não teve bom histórico nos últimos anos, a prestação de serviços de transportes para outros setores, como o agronegócio, conseguiu registrar bons resultados mesmo em anos de crise.
“Para toda nossa gama de produto, 2017 deve ser 15% melhor que 2016. No segmento de fretamento, em geral, houve queda de vendas, mas se formos recortar, por exemplo, o fretamento para o serviço rural, vemos novas perspectivas de negócios, refletindo em vendas. A resolução 916 do Contran proíbe ônibus velhos e não adaptados para o transporte rural, que exige, por exemplo, novos itens de segurança. Ao mesmo tempo, tivemos uma safra significativa. Com isso, para o fretamento do agronegócio registramos alta em torno de 10%”. – disse o gerente nacional de vendas da Volare, Sidnei Vargas.
“Acreditamos que já em 2018, podemos aumentar nossa participação no segmento de fretados. Estamos atentos à nova legislação de acessibilidade, que deve entrar em vigor em julho do ano que vem. Haverá o movimento de compra maior antes da entrada da lei, de empresários que querem aproveitar ainda a possibilidade de aquisição de ônibus sem a plataforma elevatória, que tem preço menor. Isso também deve impactar as vendas. E também acreditamos no maior valor agregado dos ônibus com as plataformas para pessoas com mobilidade. Hoje apresentamos um modelo que pode fazer com que o veículo não perca espaço interno. A plataforma tem uma poltrona que pode ser usada por qualquer passageiro, mesmo não havendo pessoas com cadeira de rodas na viagem” – pontuou o regional de vendas da Neobus, Maurício Cardoso Silveira.
“Há uma demanda reprimida por renovação de frota de ônibus no fretamento. O ideal é que o empresário consiga renovar algo em torno de 10% da sua frota, mas isso não foi possível até agora. Assim, além da recuperação econômica, que parece dar sinais mais sólidos, e da questão da acessibilidade e antecipação das compras de ônibus, esse fator tem de ser considerado. A frota de fretamento de muitas empresas está desatualizada.” – considerou o gerente regional de vendas da Caio, no Estado de São Paulo, Marcio Antônio de Souza.
“A reação econômica que se desenha vai ajudar o setor de fretamento a reagir também. Mas a indústria deve estar preparada para a situação pós crise, que não se resume a mais vendas, porém a uma nova cultura. Os passageiros e as empresas que contratam as empresas de fretamento estarão mais exigentes, assim, a preocupação com a qualidade do ônibus é fundamental. Porém, os empresários vão precisar recuperar sua rentabilidade e diminuir custos. Os ônibus então devem aliar baixo custo e qualidade e é o que estamos fazendo” – destaca o gerente nacional de vendas da Mascarello, Antônio Carlos Capecce.
E na expectativa que os serviços de fretamento devem focar na atratividade, qualidade, baixo custo operacional e segurança, expositores de produtos e soluções mostram diversos sistemas que podem deixar as viagens mais agradáveis para o passageiro, mais satisfatórias para os contratantes das companhias de ônibus e mais rentáveis para as transportadoras.
A Easy Course apresentou um programa de roteirização para diminuir quilometragem morta e distribuir melhor a oferta de ônibus, em especial para fretamento contínuo. É possível alugar o programa para reestruturar todas operações, ou para modificações pontuais, uma exigência do mercado.
A Produsoft destacou sistemas de gerenciamento de frotas e operação que, segundo a empresa, no segmento de fretamento, podem representar em torno de 15% de redução de custos, dependendo da organização da companhia de ônibus e das condições operacionais.
A Rei trouxe novidades em monitores de ônibus, para entretenimento de passageiros, conexão à internet por wi-fi a bordo, além de câmeras e sistemas de monitoramento que podem, por exemplo, identificar mais rapidamente, numa gravação irregularidades como caronas em trechos onde não há paradas, e desvios de itinerários.
A GeoTV destacou um sistema de entretenimento, como já ocorre nos aviões, pelo qual os passageiros de ônibus podem se conectar por seus dispositivos móveis a um menu de entretenimento, com filmes, shows e programas de informação.
Já a Essor Seguros mostrou uma série de alternativas de seguros, como o de responsabilidade civil, que é obrigatório em sistemas estaduais, como da Artesp, em São Paulo, por exemplo, e nas operações interestaduais e internacionais da ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres. Há ainda seguros para o veículo, incluindo a possibilidade de apenas cobrir o deslocamento do ônibus zero quilômetro da fábrica para a garagem, e o mais recente produto, a cobertura de danos em garagens de ônibus, equipamentos e os veículos estacionados.
Pelo que a reportagem do Diário do Transporte percebeu, uma luz verde se acendeu no setor de fretamento, mas ainda há o temor de novo sinal amarelo e o “farol vermelho” é uma lembrança não muito distante, e também não deixa de preocupar.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

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