terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Apostando em crescimento de 15%, Mercedes-Benz destaca segmentos de ônibus escolares e rodoviários e o sistema da Capital Paulista


Ônibus rodoviário no pátio da Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo. Segmento deve alavancar vendas da fabricante. Adamo Bazani Clique na Foto para Ampliar
Para diretor de vendas, Walter Barbosa, lei de emissões na cidade de São Paulo “chegou a um consenso razoável”, mas “é possível entender que há um direcionamento para os ônibus elétricos” e só com o tempo dará para saber se toda a frota elétrica será sustentável economicamente e operacionalmente
ADAMO BAZANI
Em época de recuperação gradativa da crise econômica brasileira e de eleições federais e estaduais, os segmentos relacionados à produção de ônibus no Brasil devem registrar expressivas altas em unidades fabricadas (volume), mas sempre com a ressalva que o crescimento se dá sobre uma base de comparação reduzida, já que nos últimos três anos, o setor registrou quedas consideráveis de maneira consecutiva.
O maior crescimento deve ocorrer no primeiro semestre, antes da realização das eleições.
A avaliação é de Mercedes-Benz que concentra em torno de 60% do mercado de ônibus de oito toneladas para cima.
Diretor de vendas e marketing de ônibus da Mercedes-Benz, Walter Barbosa, conversa com repórter Adamo Bazani sobre o setor
“No ano passado, o mercado total de ônibus fechou em 11.440 unidades, o que dá 5% acima de 2016. Neste ano [2018], nós estamos estimando um crescimento de 15% a 20% no segmento de ônibus, o que deve atingir um patamar na casa de 13 mil a 14 mil unidades, basicamente impulsionado pelos segmentos de ônibus escolares e de ônibus rodoviários. No caso do escolar, a Mercedes-Benz participou de uma grande licitação do FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e venceu um lote chamado ORE 2 – Ônibus Rural Escolar, que é um veículo lançado no ano passado, de porte médio, de nove toneladas e nove metros com bloqueio de diferencial, pneus especiais para operar em condições mais extremas com capacidade para transportar 44 alunos. Vencemos a licitação para fornecermos até 1,6 mil unidades” – disse na manhã  desta segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018,ao Diário do Transporte, o diretor de vendas e marketing ônibus da Mercedes-Benz, Walter Barbosa, na sede da fabricante, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.
ESCOLARES:
Ônibus com os padrões do Programa Caminho da Escola. Mercedes-Benz vence nova licitação para fornecer 1,6 mil unidades
Entre dezembro e janeiro, o FNDE realizou uma licitação que envolve 5,6 mil ônibus para o Programa Caminho da Escola.
Além dos 1,6 mil da categoria ORE -2 Médio que devem ser fornecidos pela Mercedes-Benz, haverá a aquisição por meio desta licitação de 1,6 mil da categoria ORE-1 (29 alunos – 7,4 metros, de 7 a 8 toneladas); 800 unidades do ORE-1 4×4 (24 alunos   – 7,4 metros, de 7 a 8 toneladas) e 1,6 mil ônibus da categoria ORE 3 (59 alunos – 10,8 metros, 15 toneladas).
Este montante deve ser entregue ao longo do ano, com possibilidade de unidades fornecidas até meados de 2019. A quantidade de 5,6 mil representa um limite de ônibus, havendo a possibilidade de não se alcançar este limite. Depende dos cadastramentos dos estados e municípios e liberação de verbas pelo FNDE.
Além disso, por ser ano eleitoral, há uma regra que a transferência de recursos do Governo Federal para estados e municípios só pode ser feita até o último dia de junho.
As montadoras e encarroçadoras podem até entregar os ônibus entre julho e dezembro, mas só receberão o pagamento depois das eleições.
O executivo ainda destacou a vitória de marca em uma licitação da Seplag/MG – Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minais Gerais para o fornecimento 905 micro-ônibus nove toneladas, do modelo LO-915 para transportes de pacientes a serviço da Secretaria de Saúde.
Como noticiou o Diário do Transporte no último dia 22 de janeiro, estes micro-ônibus em Minas Gerais terão carrocerias Mascarello.
Relembre:
PREVISÃO PARA A MERCEDES-BENZ:
Walter Barbosa disse ainda que especificamente para a Mercedes-Benz, o crescimento no setor de ônibus em 2018 deve seguir a média do mercado geral e ficar entre 15% e 20%, mas que em 2017, a empresa registou alta bem acima do registado na média do setor.
“No ano passado, o mercado [de ônibus] cresceu 5% e a Mercedes-Benz praticamente 40% em volume” – comentou.
ÔNIBUS RODOVIÁRIOS:
Em relação aos ônibus rodoviários, a Mercedes-Benz também acredita que o primeiro semestre de 2018 será mais promissor que o segundo.
Um dos motivos para isso é a entrada em vigor no mês de julho da exigência de plataformas elevatórias para ônibus rodoviários com o objetivo de melhorar a acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência. Para escapar dos preços maiores que devem ter os ônibus com estes dispositivos, os empresários devem correr e antecipar as compras.
A recente regularização do mercado de ônibus de linhas interestaduais e internacionais da ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres, com autorizações individuais de operação por linha, com novas regras de limite de idade dos veículos, ainda vai ter efeitos na indústria. Para o sistema da ANTT, a projeção da marca é de em torno de mil ônibus novos.
O sistema da Artesp, que inclui os ônibus rodoviários intermunicipais e os suburbanos do Estado de São Paulo, deve corresponder a 600 ônibus novos, isso se a licitação de fato sair.
As entregas de propostas estão previstas para o dia 15 de março, mas as empresas de ônibus não concordam com alguns termos do edital, em especial, a divisão do sistema em cinco lotes, sem a possibilidade de um mesmo grupo empresarial poder operar em mais de uma região. Relembre:
O rodoviário de 15 metros, lançado de forma oficial em 2017, também deve continuar sendo destaque.
Walter Barbosa explicou que os ônibus de dois andares de quatro eixos até 2016, quando o comprimento máximo permitido era de 14 metros, correspondiam até 3% das vendas da categoria para a marca. Em 2017, com a versão um metro maior, este número saltou para 15%.
No ano de 2018, o rodoviário de 15 metros, dois andares e quatro eixos, deve ocupar de 15% a 20% do segmento.
As empresas têm visto vantagens no modelo porque dependendo do tipo da linha operada, o custo por passageiro num ônibus 8×2 pode ser muito semelhante ao 6×2 (três eixos), mas com lucratividade maior.
Na versão 8×2 de 15 metros é possível transportar mais pessoas por veículo, com mais de uma categoria (por exemplo, leito-cama embaixo e executivo no segundo andar), além de qualificar a imagem da empresa, já que estes ônibus são mais bonitos e imponentes.
ÔNIBUS URBANOS:
O executivo da Mercedes-Benz também vê estimativas positivas para o segmento de ônibus urbanos ainda para o primeiro semestre. As eleições são o motivo.
As disputas serão para cargos federais e estaduais e, majoritariamente, os transportes urbanos são municipais.
Entretanto, a imagem de um partido político é muito influenciada pelas administrações municipais. Se a cidade não é bem administrada, os partidos têm mais dificuldades de eleger deputados, governadores e presidentes.
Isso sem contar que alguns prefeitos têm os nomes cogitados para disputar o comando de estados.
Os transportes urbanos são majoritariamente municipais, mas operados pela iniciativa privada.
Quem compra o ônibus é o empresário, mas quem tem ganho de imagem com isso é a prefeitura. Por isso que nos ônibus urbanos em grande parte da cidade está maior o nome da prefeitura que da empresa de ônibus.
A lógica das padronizações de pintura muitas vezes passa mais pela preocupação com a imagem do gestor público do que para organização do sistema.
GRANDES GRUPOS:
Ônibus da Breda, do Grupo Comporte. Conglomerado de empresas comprou mil ônibus em dezembro
A Mercedes-Benz informou nesta manhã que vendas de ônibus para grandes grupos empresariais também têm movimentado as linhas de produção entre o final de 2017 e o início deste ano.
Somente o Grupo Comporte, da família de Constantino Oliveira, que possui diversas empresas, adquiriu em dezembro, em torno de mil ônibus, entre urbanos e rodoviários.
“O Grupo Comporte tomou uma decisão de compra importante. Acredito também que teve a previsibilidade de um ano antecipado para o primeiro semestre. Destes mil ônibus para o Grupo Comporte, são aproximadamente 700 urbanos e o restante, rodoviários. O Grupo assim pode se programar com antecedência, inclusive com encarroçadores, que precisam ter estes veículos até final de abril, para que passam entregar às empresas até final de junho” – diz Walter Barbosa, que ainda comentou que hoje o negócio de ônibus no Brasil está cada vez mais concentrado em grandes operadores.
“Se pegar todo o mercado de ônibus, praticamente 60% a 70% são grandes operadores. Os cerca de 30% do volume de veículos comparados são por pequenos empresários que adquirem torno de 5 veículos por pedido”.
Walter diz que por maior que seja a capacidade de negociação e volume do grande operador, a marca tem uma rede que pode atender todos os tipos de compradores de ônibus.
“A Mercedes-Benz se estruturou bastante na venda de ônibus. É uma empresa dedicada ao mercado de ônibus. Evidente que eu particularmente não consigo estar presente em todos os clientes, mas temos um time preparado para todos os tipos de clientes. Dos 150 concessionários, hoje nós temos 25 que são 100% ônibus” – explica.
LICITAÇÃO DOS ÔNIBUS EM SÃO PAULO:
O maior sistema de ônibus da América Latina está em licitação: o da capital paulista.
Depois de quase cinco anos de atrasos por uma sucessão de motivos, a prefeitura diz que neste ano pretende finalizar o certame que envolve em torno de 14 mil ônibus e nove milhões de passageiros por dia.
O prazo de consulta pública, pela qual é possível enviar sugestões às minutas para formular os editais definitivos foi prorrogado para 5 de março. Relembre a matéria e saiba dos detalhes da licitação dos ônibus em São Paulo neste link:
Walter Barbosa diz que independentemente de licitação, a capital paulista, por causa da renovação da frota que vai atingir a idade máxima permitida, deve receber neste ano em torno de 1600 a 1800 ônibus novos.
Sobre o sistema da capital paulista ainda, Walter Barbosa destacou que a nova lei que determina redução de emissões de poluição pelos ônibus da cidade é um avanço em relação à determinação de 2009, que não foi cumprida.
Em 2009, a lei 14.933, chamada de Lei de Mudanças Climáticas, determinava troca de 10% da frota por ano até que em 2018, nenhum ônibus da cidade dependesse de combustíveis fósseis para se movimentar.
A lei não foi cumprida e, depois de quase um ano de discussões, a Câmara aprovou em 2017 um alteração no artigo 50 da lei 14.933 determinando não modelos de ônibus menos poluentes, mas metas de redução de poluição.
O prefeito João Doria vetou a inspeção veicular no projeto, mas sancionou o cronograma dos ônibus.
Relembre:
As reduções de emissões de poluição pelos ônibus de São Paulo devem ser de acordo com o tipo de poluente em prazos de 10 anos e 20 anos.
Em 10 anos, as reduções de CO2 (gás carbônico) devem ser de 50% e 100% em 20 anos. Já as reduções de MP (materiais particulados) devem ser de 90% em 10 anos e de 95% em 20 anos. As emissões de Óxidos de Nitrogênio devem ser de 80% em 10 anos e 95% em 20 anos.
Walter Barbosa diz que é positivo o fato de neste primeiro momento não haver exigência de tipos de ônibus (tecnologia), mas que as metas acabam sendo direcionadas para o ônibus elétrico com bateria, um modelo que ainda o mercado não tem segurança e experiência operacional em larga escala, segundo ele. Além disso, há poucos modelos disponíveis homologados de fato.
“Obviamente existe um ‘direcionamento’, ou é possível se entender um direcionamento a caminho dos ônibus elétricos, mas, antes de mais nada, é bom destaca que a aprovação desta lei é importante para ‘startar’, o país precisa crescer, precisa evoluir, mas gradativamente a gente precisa avaliar se isso [a frota 100% elétrica] é sustentável ou não. Porque não adianta colocar 100% da frota de veículos elétricos e isso não ser algo sustentável. Até lá, 2037, acho que vai ser possível medir e aprimorar este modelo de negócio” – explica Walter.
O diretor do setor de ônibus da Mercedes-Benz ainda disse ao Diário do Transporte que mais trólebus poderiam trazer vantagens para sistemas como de São Paulo, em corredores exclusivos.
“O trólebus é uma opção muito interessante, até porque é emissão zero e não precisa carregar [as baterias]. A desvantagem obviamente é o custo da instalação de toda a rede [de fios, subestações e postes], que normalmente é feita pelo poder público, mas, por outro lado, eu acho uma boa opção em corredor. Como o corredor não tem problema de manobrabilidade, o trólebus poderia funcionar bem e com baixo custo” – diz Walter Barbosa
A licitação prevê a colocação de mais 50 trólebus no sistema de São Paulo, mas sem aumento da rede, apenas aproveitamento de uma capacidade que não é usada.
Os projetos de novos corredores da cidade não preveem estrutura para trólebus.
A preocupação com a estrutura e como se daria a operação com ônibus elétricos com baterias também é presente entre os operadores, os empresários.
O presidente do SPUrbanuss, Francisco Christovam, em encontro com jornalistas em 17 de janeiro de 2018,que teve a participação do Diário do Transporte, disse que ainda não está claro como seria a estrutura necessária para recarga das baterias dos ônibus nas garagens da capital, que normalmente reúnem grandes frotas que não podem ficar muito tempo paradas.
“As reduções de particulados [materiais particulados] e NOx não são difíceis de alcançar. O que nos preocupa é como alcançar a redução do gás carbônico. Essas metas levam à eletrificação de toda a frota, mas, além da questão de remuneração, ou seja, ligada ao custo, não entendemos que hoje haja disponibilidade e confiabilidade tecnológica. Como todos os ônibus vão ser elétricos? Temos garagens de 400 ônibus. Como vai recarregar as baterias ao mesmo tempo de todos estes ônibus? Vai ter impactos na rede das casas e estabelecimentos perto das garagens? Quem conhece minimamente operação de ônibus, sabe que a frota passa umas três horas só na garagem, sai de madrugada e volta na outra madrugada. O tempo de recarga é de três a quatro horas, que é o tempo que o ônibus também precisa passar por uma checagem de manutenção, limpeza, verificação de pneus… E o espaço que vai ser ocupado dentro da garagem por estas estações de carregamento de bateria? São repostas que ainda não recebemos concretamente de ninguém e não há exemplo no Brasil de operação semelhante em grande escala” – disse Christovam que ainda comentou no encontro que até agora o modelo de ônibus elétrico apresentado por Doria, em 14 julho de 2017, como parte integrante da frota, não recebeu ainda homologação para circular comercialmente com passageiros.
Na ocasião, Doria prometeu que o ônibus elétrico de fabricação da chinesa BYD, na planta de Campinas, interior de São Paulo, circularia até o dia 31 de julho de 2017 e que no início de 2018, 60 unidades estariam prestando serviços.
Mas atualmente, o ônibus apresentado por Doria nem está mais em testes na Ambiental Transportes, empresa da capital que deveria operar esta frota. Depois de ser testado recentemente no Aeroporto Internacional de São Paulo, na cidade de Guarulhos, a unidade está na garagem da Expandir, da zona Leste da capital.
Relembre:
OUÇA A ENTREVISTA COM WALTER BARBOSA NA ÍNTEGRA:
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BOM PRINCÍPIO:
Entre os veículos comerciais da Mercedes-Benz, os destaques do início do ano foram os ônibus, que venderam mais que os caminhões.
Entre janeiro e dezembro, dos 6 mil 212 veículos comerciais vendidos ou negociados, cujos os compradores já autorizaram divulgação, 3 mil 985 foram ônibus; 1 mil 154 comerciais leves (em especial a Sprinter) e 1073 caminhões.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

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