sábado, 4 de agosto de 2018

Motoristas de ônibus do Rio de Janeiro acreditam que fim de padronização visual por consórcio vai melhorar velocidade e trabalho

Ônibus com simulação de pintura própria de empresa. Foto: Adamo Bazani (Diário do Transporte)/Clique para ampliar
Segundo profissionais ouvidos pela reportagem, mesmo após quase oito anos de cores por consórcio, ainda tem muita gente que se confunde na hora de embarcar
ADAMO BAZANI
Diário do Transporte esteve nesta sexta-feira no Rio de Janeiro para acompanhar o anúncio por parte do sindicato que reúne as viações, o Rio Ônibus, e pela gestão Marcelo Crivella, das mudanças no hoje degradado sistema de transportes da cidade.
O objetivo é recuperar a qualidade dos serviços e, consequentemente, reconquistar a confiabilidade do passageiro, abalada por um cenário que foi marcado por instabilidades no valor da tarifa, frota velha em circulação, denúncias de corrupção envolvendo algumas empresas e falência de companhias de ônibus. Veja todas as mudanças neste link:
Um das mudanças que mais têm dividido opiniões nas redes sociais é a o fim da padronização atual das pinturas por consórcio, em vigor desde 2010.
Segundo o presidente do Rio Ônibus, Claudio Callak, e o prefeito Marcelo Crivella, além de “despolitizar” as latarias dos ônibus, o fato de cada empresa poder ter sua pintura, desde que seguindo algumas normas, pode facilitar a vida do passageiro na hora que precisar identificar seu ônibus à distância.
Mas e os profissionais dos transportes, que atuam no dia a dia das ruas, o que acham?
Foi isso que o Diário do Transporte quis saber conversando com alguns motoristas enquanto a reportagem esteve no Rio de Janeiro.
A maioria dos condutores entrevistados aprovou a volta das pinturas próprias das empresas.
“Dizem que isso é bobagem e que o passageiro não liga. Mentira, liga sim. Principalmente senhorzinho e a ‘senhorzinha’, que tem dificuldade de ver de longe. Quase toda a semana tem gente que pega ônibus errado. Só o letreiro não dá” – disse o motorista José Batista da Silva, que trabalha há 21 anos no sistema e se recorda da época das empresas com suas cores.
“Sem dúvida nenhuma fica mais fácil, principalmente para o passageiro que tem dificuldade de visualizar, o idoso, por exemplo. Já vai saber de longe qual é a empresa” – disse o instrutor de motoristas, Jorge Antunes da Silva.
Outro instrutor de motoristas, Jairo Bispo dos Santos, acredita que até mesmo a velocidade dos ônibus nas linhas pode aumentar com o fim da atual padronização.
“Os motoristas são orientados a dar toda a informação necessária para o passageiro. Mas isso, querendo ou não, toma tempo, mesmo que sejam segundos, com o passageiro ainda na porta perguntando. Soma esses segundos por milhares de ônibus e viagens. Acredito que vai ter bom resultado nisso também” – contou.
Mas nem todos os motoristas acham que haverá impactos.
“No final das contas, vai dar no mesmo. As pessoas se orientam pelo letreiro e a maior parte das informações é sobre as ruas [por onde] os ônibus passam e não sobre se a linha é a certa ou não” – disse Astrogildo Pereira, motorista do sistema.
À reportagem, pouco antes da apresentação das mudanças, o presidente do Rio Ônibus, Claudio Callak, lembrou que nas primeiras semanas da padronização atual, sua empresa, a Real Auto Ônibus, chegou a perder até 30% do número de passageiros.
“As pessoas têm de se identificar com as empresas de ônibus e saber quem está prestando o serviço de maneira clara” – disse.
O dirigente garantiu que, com exceção do ônibus de demonstração de ontem, todos os ônibus com as novas pinturas serão 0 km.
“Não vai ter dessa de pintar ônibus velho e falar que é novo”
NA CONTRAMÃO:
“O saia e blusa” foi uma das primeiras padronizações do país a partir do final dos anos de 1970, em São Paulo.
O fim da padronização visual dos ônibus do Rio de Janeiro vai na contramão do que ocorre nos principais sistemas de transportes do mundo e do País.
Cidades como São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, por exemplo, padronizam os veículos de acordo com o serviço ou região atendida.
Em Curitiba, por exemplo, ao ver um ônibus prateado, o passageiro sabe que é o Ligeirinho, que faz menos paradas. Mas se ver um ônibus laranja, vai saber que é o alimentador.
Já em São Paulo, por exemplo, ao ver um ônibus com a frente e a traseira na cor azul clara, o passageiro vai saber que o veículo vai para a zona Sul. Com a cor vermelha, o ônibus vai para a zona Leste. Outras cores indicam outras regiões.
A capital paulista é uma das primeiras cidades do País onde foi implantado um padrão municipal de pintura.
Foi em 1978, com o sistema “saia e blusa”, na gestão do prefeito Olavo Setúbal.
A saia, parte inferior da carroceria, era pintada de acordo com a região atendida. Já a blusa (meio e parte superior) ficava a critério da empresa.
A intenção foi reorganizar o sistema, que contava com muitos ônibus e empresas. Além da mudança de cores, houve a reorganização de trajetos e uma nova numeração das linhas, segundo critérios como origem e destino e se o ônibus passava pelo centrou por alguma estação de Metrô.
ELEVADOR:
No evento, foi apresentado um ônibus da Viação Ideal adesivado com a simulação de como devem ser implantadas as pinturas.
Na ocasião, os motoristas também mostraram como funciona o equipamento de elevador que não fica acoplado à porta, mas sob o assoalho e é acessado por dispositivos pneumáticos e eletrônicos. O equipamento já está em vários ônibus do sistema há quase dois anos.
Segundo os profissionais, este tipo de equipamento pode trazer mais conforto e aproveita melhor o espaço interno, além de terem menos desgaste por não estarem ligados aos degraus de uso comum.
Veja o vídeo:
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Um comentário:

  1. Finalmente essa praga acabou, não sei porque trouxeram isso para cá, foram oito anos de atraso e a pintura única não facilitou ou ajudou em absolutamente nada, só serviu para maquiar as empresas e poluir o visual da cidade. Espero que São Paulo e Curitiba também adotem a padronização por empresa.

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