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segunda-feira, 27 de março de 2017
Sindicato diz que dinheiro obtido com venda da Busscar não será suficiente para pagar dívidas trabalhistas
Modelo rodoviário da Busscar. Caio deve investir neste segmento
Encarroçadora foi adquirida por sócios da Caio por preço mais
de cinco vezes menor que o proposto em primeira tentativa de leilão no
ano passado ADAMO BAZANI
Na primeira tentativa de leilão da fabricante de carrocerias Busscar,
em 2016, que ocorreu há mais de um ano, em 15 de março, as três
unidades fabris adquiridas nesta semana por sócios da Caio,
encarroçadora do interior paulista, custariam R$ 369.305.922,65
(trezentos e sessenta e nove milhões, trezentos e cinco mil, novecentos e
vinte e dois reais e sessenta e cinco centavos). – Relembre: https://diariodotransporte.com.br/2016/03/15/%EF%BB%BFleilao-da-busscar-ninguem-apresenta-propostas-e-nova-rodada-sera-realizada-no-proximo-dia-29/
Mas, o grupo paulista, comandado pela família Ruas, a maior operadora
de ônibus municipais de São Paulo, conseguiu da Justiça homologação da
compra, no dia 21 de março de 2017, com assinatura no dia 22, por R$
67,15 milhões, valor cinco vezes e meia menor que o estipulado
inicialmente há um ano. O montante foi dividido em um sinal de R$ 9,4
milhões e mais 50 parcelas do restantepelos próximos quatro anos,
compreende as unidades da Busscar em Joinville, Pirabeiraba e Rio
Negrinho, assim como seus terrenos, edificações, maquinário e móveis. As
parcelas terão correção monetária.
Esse deságio é uma das preocupações expressadas pelo Sindicato dos
Mecânicos de Joinville, que representa os trabalhadores que foram
desligados da Busscar. A encarroçadora, fundada em 1946, pela família
Nielson, teve a falência decretada pela primeira vez em 2012, abrindo
margem para disputa judicial.
De acordo com a entidade sindical, as dívidas da Busscar giram em
torno de R$ 1 bilhão. Somente os débitos trabalhistas, somam R$ 250
milhões e 5,5 mil trabalhadores cobram na Justiça os direitos.
Pela negociação, aprovada pela justiça, o grupo da Caio não foi obrigado a assumir as dívidas da antiga administração.
Isso porque, a Caio não adquiriu a marca Busscar e sim os patrimônios, equipamentos e gabaritos dos ônibus da empresa.
A maior esperança de arrecadação seria justamente a venda dos patrimônios.
Para pelo menos tentar diminuir aflição dos trabalhadores, o
sindicato faz um abaixo assinado com o objetivo de conseguir a divisão
igual ou proporcional a todos os empregados. Pelas regras atuais, alguns
deles poderiam ficar sem nenhum recurso neste primeiro momento.
Com arrecadação bem abaixo dos valores das dívidas, os trabalhadores
temem não receber integralmente seus direitos até o final da vida.
Os outros credores, como bancos, fornecedores e o próprio poder
público, já que há um grande volume de impostos em atraso, também temem.
Se não houver nenhuma contestação na justiça, ou algum problema de
documentação, o que praticamente está descartado, a Caio assume agora,
em abril, a administração. Em maio, deve começar a contratar
trabalhadores, dando preferência a ex-funcionários da Busscar.
Entretanto, ainda não há uma data para o início das operações. A tentativa é para o segundo semestre.
A encarroçadora paulista é líder no segmento de urbanos, com pouca
expressividade nos ônibus rodoviários, e quer investir justamente neste
ramo de atuação dos transportes, hoje liderado pela Marcopolo.
A Busscar chegou por diversos momentos a ser líder nacional de
produção de ônibus, em especial de modelos rodoviários, embora era
também expressiva entre os ônibus urbanos e metropolitanos. HISTÓRICO DAS MAIS RECENTES TENTATIVAS DE LEILÃO DA BUSSCAR:
Foram várias tentativas de leilão da Busscar, três somente em 2016. Todas esvaziadas. A cada uma delas, o valor caía.
– Primeira tentativa: 15 de março de 2016, as três unidades fabris
(Unidade Joinville SC – Fábrica de Carrocerias / Unidade Pirabeiraba –
Joinville SC – Fábrica de Peças / Unidade Rio Negrinho SC – Fábrica de
Peças) custariam R$ 369.305.922,65 (trezentos e sessenta e nove
milhões, trezentos e cinco mil, novecentos e vinte e dois reais e
sessenta e cinco centavos)
– Segunda tentativa: 29 de março de 2016. O valor seria de R$ 221,5
milhões (incluindo ativos reivindicados na Justiça, e incertos) ou, na
prática, R$ 176,5 milhões (descontados os ativos) por todas as empresas
do grupo. – 60% do valor do primeiro leilão
– Terceira Tentativa: No dia 8 de julho, terminou sem lance o
terceiro leilão da empresa. Seria aceita oferta de quantia igual ou
superior a 49% do valor da avaliação- do primeiro leilão. R$
133.151.088,11. Também sem propostas. CAIO “NAMORAVA” HÁ MUITO TEMPO A BUSSCAR:
O namoro entre a empresa de Botucatu, atualmente especializada apenas
em ônibus urbanos, e que não preenche o mercado de ônibus rodoviários, é
antigo.
Em 2007, a Caio já havia procurado sócios da Busscar para uma fusão. As negociações não avançaram.
Em setembro de 2011, antes mesmo da falência da Busscar, a Caio já
tinha confirmado interesse na encarroçadora de Joinville. Relembre: https://diariodotransporte.com.br/2011/09/28/busscar-caio-fala-em-primeira-mao-com-blog-ponto-de-onibus/
Em outubro daquele ano, porém, a Justiça indeferiu a proposta da Caio que previa pagamento de R$ 40 milhões pelo complexo.
Em 15 de fevereiro de 2012 foi anunciada a criação de uma joint
venture formada pelos acionistas das duas gigantes da produção de
carrocerias de ônibus: Caio e Marcopolo.
A parceria envolve a Twice Investimentos e Participações, integrada
por acionistas da Caio Induscar, e a controlada da Marcopolo, Syncropats
Comércio de Distribuição de Peças Ltda.
Em 2013, a Caio voltou a apresentar outra proposta, desta vez para aluguel da Busscar.
Esta proposta também foi recusada pela justiça. Todas as propostas foram apresentadas em período anterior à crise econômica.
As empresas propuseram à Quinta Vara Cível de Joinville, que cuida do
processo de falência da Busscar, o aluguel/arrendamento do Parque
Fabril da companhia.
Para isso, pagariam um valor de R$ 300 mil por mês. – Relembre: https://diariodotransporte.com.br/2013/02/28/caio-e-marcopolo-querem-alugar-a-busscar/
Modelo rodoviário da família Diplomata, destaque na época da Nielson – nome de origem da BusscarBREVE HISTÓRICO:
A Busscar foi fundada oficialmente como Nielson no dia 17 de setembro
de 1946, com iniciativa de Augusto e Eugênio Nielson que começaram uma
pequena oficina em Joinville, atuando na construção de móveis e
utensílios e fazendo reparos em carrocerias de caminhões e cabines. Em
1948, a Nielson fez seu primeiro veículo de transporte coletivo, uma
jardineira – ônibus simples feito de madeira. O veículo da Nielson foi
uma encomenda da empresa Abílio & Bello Cia Ltda, que fazia a linha
Joinville – Guaratuba, em Santa Catarina.
Foi na época do surgimento empreendimento dos Nielson, que o Brasil
começava assistir mais intensamente o crescimento das cidades e também
das relações comerciais entre as diferentes localidades. Tudo isso
demandava uma maior oferta de transportes. Assim muitos empreendedores
compravam chassis de caminhão, como da Ford e da GM, e precisavam
transformá-los em ônibus para enfrentar as difíceis estadas de terra e
verdadeiros atoleiros. Nesta época, a Nielson & Cia Ltda. tinha o
comando do patriarca da família, Bruno, e do filho Harold.
Em 1958, um dos marcos para a Nielson foi o projeto de estrutura metálica para os ônibus.
No início dos anos de 1960, ganhavam as estradas os modelos
Diplomata, carroceria de dois níveis que lembravam os Flxibles
norte-americanos que, quando foram importados pela Expresso Brasileiro
Viação Ltda eram chamados de Diplomata. A Nielson então conquistava
definitivamente o mercado.
Nos anos de 1980, Nielson cresce mais e no segmento de rodoviário
travava disputa acirrada com a Marcopolo e no segmento urbanos, a briga
era com a Caio, praticamente de igual para igual.
A linha Diplomata tinha recebido novas versões e o Urbanuss ganhava atenção dos frotistas.
Por uma estratégia de negócios, a Nielson mudou a marca para Busscar.
Inicialmete a marca foi conhecida como Busscar-Nielson. Surgiram os
rodoviários El Buss e Jum Buss e os urbanos da linha Urbanuss.
Em 2002, a Busscar começa enfrentar dificuldades financeiras. A
família Nielson alegava problemas motivados pela variação cambial e
também dificuldades de créditos, mas já havia também erros
administrativos internos. O BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social chegou a realizar empréstimos para empresa, que não
foram plenamente honrados. A recuperação não foi plena, havendo
novamente outro problema financeiro em 2004. A última crise da Busscar
começou em 2008, quando a empresa começou a atrasar salários.
Depois de uma dívida que se aproximou de R$ 2 bilhões, contando
juros, impostos e débitos com fornecedores, trabalhadores e bancos, a
empresa teve a falência decretada em 27 de setembro de 2012 pelo juiz
Maurício Cavalazzi Povoas. A decisão, no entanto, foi anulada em 27 de
novembro de 2013, após recursos judiciais. No entanto, os recursos
caíram em 5 de dezembro de 2013. A família Nielson chegou a apresentar
um novo pedido de recuperação judicial, mas o juiz Luis Felipe Canever,
de Santa Catarina, após negativa por parte dos credores, decretou no dia
30 de setembro de 2014, nova falência da encarroçadora de ônibus
Busscar, que já foi uma das maiores do Brasil.
Os negócios continuam na América Latina com a atuação em parceira de outros grupos, com destaque para as operações na Colômbia.
A Busscar Colômbia foi formalizada no ano de 2002 sendo fruto de uma
aliança entre a indústria local Carrocerías de Occidente, empresa
fundada em 1995, e a Busscar Ônibus do Brasil, fundada pela família
Nielson em 17 de setembro de 1946.
Foram várias tentativas de leilão da Busscar, três somente em 2016. Todas esvaziadas. A cada uma delas, o valor caía.
– Primeira tentativa: 15 de março de 2016, as três unidades fabris
(Unidade Joinville SC – Fábrica de Carrocerias / Unidade Pirabeiraba –
Joinville SC – Fábrica de Peças / Unidade Rio Negrinho SC – Fábrica de
Peças) custariam R$ 369.305.922,65 (trezentos e sessenta e nove
milhões, trezentos e cinco mil, novecentos e vinte e dois reais e
sessenta e cinco centavos)
– Segunda tentativa: 29 de março de 2016. O valor seria de R$ 221,5
milhões (incluindo ativos reivindicados na Justiça, e incertos) ou, na
prática, R$ 176,5 milhões (descontados os ativos) por todas as empresas
do grupo. – 60% do valor do primeiro leilão
– Terceira Tentativa: No dia 8 de julho, terminou sem lance o
terceiro leilão da empresa. Seria aceita oferta de quantia igual ou
superior a 49% do valor da avaliação- do primeiro leilão. R$
133.151.088,11. Também sem propostas.
No final de outubro de 2016, foi apresentada uma proposta de compra
por R$ 67,15 milhões por um grupo de investidores com o objetivo de
retomar as produções em meados de 2017.
Em dezembro do mesmo ano, foi liberado um lote de R$ 18 milhões para saldar parte das dívidas trabalhistas.
Também em dezembro de 2016, dois grupos internacionais, o português a
Imparável Epopeia UniPessoal Ltda e o chinês Liaoyuan Group
demonstraram interesse na compra da Busscar.
Em 07 de janeiro de 2017 terminou o prazo para as empresas estrangeiras apresentarem a documentação exigida.
A proposta ficou somente pela Caio. No dia 08 de janeiro, advogado da
Caio esteve em Joinville e confirmou valor proposto de R$ 67,5 milhões.
Em 21 de março de 2017, o juiz da 5ª Vara cível de Joinville, Valter
Santin Júnior, aprovou em sentença definitiva a compra da Busscar por
sócios da Caio, encarroçadora de ônibus de Botucatu/SP, que tem como
principal sócio o Grupo Ruas, de empresas de ônibus de São Paulo.
No dia 22 de março de 2017, os sociodiretores da Caio/Induscar
Marcelo Ruas e Maurício Lourenço da Cunha foram à Joinville, em Santa
Catarina e assinaram o documento de compra da Busscar, na 5ª Vara Cível
na cidade. Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes Fonte: Diário do Transporte
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