Projeto também se estende para outras cidades. Normas nacionais permitem veículos com este padrão. Fabricante Scania diz que modelo biarticulado conta com sistema de isolamento desenvolvido após estudos de engenharia atualizados
ADAMO BAZANI
Depois de seis dias da apresentação de um novo modelo de ônibus biarticulado em Curitiba com motor dianteiro, que contou com a participação do prefeito Rafael Greca, surgiu na Assembleia Legislativa do Paraná, um projeto de lei que quer banir este tipo de motorização dos veículos de transporte coletivo em todo o Estado, inclusive na Capital e na Região Metropolitana.
De autoria do deputado professor Lemos, do PT, o projeto de lei 801/2017, propõe que os atuais ônibus com motor dianteiro sigam normalmente nos sistemas de transportes locais até a idade limite permitida pelas legislações das cidades ou metropolitana, mas os veículos novos ou seminovos comprados para os serviços só poderiam ser de motor traseiro ou central.
Na justificativa, o parlamentar cita um estudo de 2012, feito a pedido do Ministério Público do Trabalho do Distrito Federal e Territórios que concluiu que em torno de 48% dos motoristas de ônibus urbanos são vítimas de algum nível de perda auditiva.
O estudo ainda conclui que os motoristas de ônibus urbanos são submetidos as 90 decibéis, em média, mas a Organização Mundial de Saúde – OMS determina como limite de conforto 50 decibéis e constata que a partir de 60 decibéis já começa a ocorrer perda da concentração dos profissionais.
Com base neste estudo, em 2015, os deputados do DF aprovaram uma lei proibindo ônibus de motor dianteiro no sistema. A lei foi regulamentada em junho deste ano. Relembre:
Em entrevista ao Diário do Transporte, no início da noite desta quinta, 30, o gerente de desenvolvimento de mercado da Scania, Eduardo Monteiro, disse que a questão principal não é o posicionamento do motor, mas o isolamento de ruído e calor.
A Scania é a marca que apresentou o novo modelo de ônibus biarticulado F360HA ao prefeito Rafael Greca.
“Dizer que pode haver risco à saúde auditiva do motorista somente pela posição do motor é um equívoco. Acredito que o interessante seria discutir reduções e limitações do nível de ruído e de calor, independentemente da configuração do ônibus.” – disse Monteiro, por telefone.
O executivo ainda salientou que o modelo biarticulado da marca exige sistemas de construção das encarroçadoras com maior isolamento na área do motor e do escapamento.
“A engenharia da Scania criou um sistema de isolamento específico para o modelo e desenvolveu um ferramental próprio e um pré-moldado a ser usado pelas fabricantes das carrocerias. Por exemplo, no caso do modelo apresentado em Curitiba, houve desenvolvimentos em conjunto com a encarroçadora Caio. Além de o ônibus ser avaliado agora em Curitiba, houve estudos de bancada (com o motor fora do veículo ainda), nas ruas e até mesmo no trajeto entre a Caio, em Botucatu, até Curitiba técnicos foram fazendo medições e avaliações.” – explicou ao Diário do Transporte.
A apresentação do veículo ocorreu dias depois de o prefeito de Curitiba, Rafael Greca, fazer acordo com as empresas de ônibus para a compra de 150 ônibus novos por ano até 2020. Os primeiros 25 ônibus biarticulados devem estar em operação em março de 2018.
Relembre:
https://diariodotransporte.com.br/2017/11/14/curitiba-vai-receber-150-onibus-novos-por-ano-ate-2020/
Os sistemas de Curitiba (Urbs) e da Região Metropolitana (Comec) têm 2,2 mil ônibus, sendo que em torno de 1,5 mil são de motor dianteiro.
Outra preocupação em relação ao projeto de lei, da forma como foi colocada, é que a abrangência da proposta é todo o Estado, e há diversas cidades no interior e na Região Metropolitana que não têm vias asfaltadas por onde passam os ônibus e com áreas de tráfego mais severo, dificultando ou inviabilizando a operação de toda a frota com motores traseiros ou centrais.
Também não há citações sobre micro-ônibus ou midibus (micrões). Há poucos modelos de ônibus de pequeno ou médio portes com motores traseiros.
Em coberturas anteriores feitas pelo Diário do Transporte, executivos de outras montadoras falaram que os veículos de motor dianteiro evoluíram.
“Hoje há soluções como ônibus de motor dianteiro com suspensão pneumática e tecnologias que reduzem os níveis de ruído e calor. Em breve, o ônibus de motor dianteiro com suspensão a ar será a maior parte dos veículos vendidos nesta categoria”, disse o diretor de vendas e marketing de ônibus da Mercedes-Benz, Walter Barbosa.
“Os motores estão mais silenciosos, menos poluentes e também houve evolução nas carrocerias. O desenvolvimento tecnológico permitiu a fabricação de ônibus com motores dianteiros com nível de conforto bem maior do há alguns anos” – relatou o gerente de marketing da Iveco Bus, Gustavo Serizawa.
Os executivos salientam também a necessidade de conservação e manutenção correta dos veículos. Em outras palavras, se o ônibus não for bem conservado pelas empresas, vai fazer mais barulho e calor interno.
O projeto chegou ontem à Comissão de Constituição e Justiça. A tramitação não é prioritária.
Confira o projeto na íntegra:
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes
Fonte: Diário do Transporte
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