sexta-feira, 30 de junho de 2017

Governo quer aumentar tributos sobre combustíveis para cobrir rombo do orçamento. Se ideia vingar, PEC da Cide municipal pode ser frustrada


Cide municipal vem sendo defendida pelos prefeitos do país como uma necessária e urgente fonte de receita para baratear os custos dos transportes públicos. Isso porque em muitas cidades brasileiras todo o custo do transporte é repassado ao usuário do sistema no preço da passagem
ALEXANDRE PELEGI
A Cide municipal vem sendo defendida pelos prefeitos do país como uma necessária e urgente fonte de receita para baratear os custos dos transportes públicos. Isso porque em muitas cidades brasileiras, como Rio de Janeiro e Goiânia, todo o custo do transporte é repassado ao usuário do sistema no preço da passagem.
Por conta disso, a FNP – Frente Nacional dos Prefeitos liderou uma mobilização que redundou numa Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê a criação de um tributo sobre os combustíveis, conhecida como Cide municipal.
Mas o governo tem outros planos que poderão frustrar a luta dos prefeitos.
Segundo matéria de hoje (30) do jornal Folha de SP, a equipe econômica de Temer estuda um aumento de tributos na venda de combustíveis, mas não para gerar receitas para o transporte público como defendem a FNP e empresários do setor, e sim para fechar as contas deste ano sem descumprir a meta estabelecida para redução do rombo no Orçamento.
Dentre os planos da equipe do ministro da Fazenda Henrique Meirelles, segundo a reportagem, estaria a ideia de elevar as alíquotas de PIS e Cofins que incidem sobre os combustíveis, “garantindo recursos que o governo federal não precisaria compartilhar com Estados e municípios”.
Ou seja: o governo criaria e arrecadaria o tributo sobre os combustíveis, e ficaria com toda a receita para si.
A outra possibilidade estudada seria aumentar a Cide dos combustíveis, mas neste caso as receitas daí provenientes precisariam ser compartilhadas com prefeituras e estados.
A PEC está dormitando na Câmara Federal, aguardando ainda uma definição de data para entrar na pauta da Câmara e assim seguir para o plenário da Casa. (Relembre: https://diariodotransporte.com.br/2017/05/14/presidencia-da-camara-nao-define-data-para-votar-pec-da-cide-municipal-e-penaliza-ainda-mais-usuario-de-onibus/)
Na quarta-feira (dia 28), na abertura do Congresso da ANTP – Associação Nacional de Transportes Públicos, em São Paulo, o presidente da FNP, o prefeito Jonas Donizetti, de Campinas, anunciou que recebera uma ligação do prefeito de São Paulo, João Doria, justificando sua ausência no encontro. O motivo: Doria estava em Brasília, e havia obtido uma promessa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, de que a PEC da Cide municipal iria ter sua votação acelerada.
Resta saber (ou torcer): a equipe econômica, caso aumente tributos na venda de combustíveis, vai compartilhar a receita gerada com estados e municípios? Como fica aproposta da PEC da Cide municipal?
PEC DA CIDE MUNICIPAL:
Um estudo divulgado no ano passado pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) mostrou que a Cide municipal seria uma importante solução para que as cidades pudessem bancar parte da tarifa, o que permitiria assegurar gratuidades, integrações e outros benefícios de caráter social. Por esse estudo, um aumento de R$ 0,19 no litro da gasolina, álcool e GNV poderia gerar redução de cerca de 30% nas passagens de ônibus no país.
A Comissão Especial da PEC 159-A aprovou em 15 de março deste ano a sugestão da Frente Nacional de Prefeitos (FNP) de utilizar a Cide (Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico) Municipal sobre combustíveis como fonte alternativa para o barateamento das tarifas do transporte coletivo. Vencida esta primeira etapa, a PEC precisa ser votada em dois turnos pelo plenário da Câmara dos Deputados. Até agora, no entanto, a Presidência da Casa não se manifestou.
A luta dos prefeitos, pelo visto, ainda será longa. Os custos dos transportes públicos continuarão a sacrificar os já minguados cofres municipais. Parece que ainda falta muito para as autoridades entenderem que transporte público é essencial para a qualidade de vida e a economia de uma cidade (e do país).
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transporte

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