Fotos, veículos antigos e um olhar para o futuro do meio ambiente e da mobilidade vão marcar o evento na capital paulista
ADAMO BAZANI
No dia 22 de abril de 1949, iniciava a primeira viagem de trólebus do Brasil. Era a linha entre o bairro da Aclimação e a Praça João Mendes na capital paulista com trajeto de 7,2 quilômetros. O passageiro ilustre e o condutor em alguns momentos era o governador de São Paulo, Adhemar de Barros.
A primeira queda de alavanca (pantógrafo), perto da Rua Conselho Furtado, indicava que o meio de transporte teria altos e baixos. O veículo foi assumido pelo motorista Manoel Vieira (lembre da entrevista em: https://miltonjung.com.br/2009/06/02/o-pioneiro-do-trolebus/)
Mas a chegada ao fim da viagem também era sinal de que o meio de transporte seria um sucesso, embora que ao longo do tempo foi abandonado em muitas cidades por diversas questões, inclusive interesses de grupos econômicos e até suspeitas de corrupção.
O trólebus é um veículo que marcou a história dos Transportes no Brasil e que tem muito a oferecer para o futuro da mobilidade urbana, já que os veículos e as redes tiveram evolução tecnológica e hoje são largamente usados em 360 sistemas de mais de 40 países, em especial na Europa, Estados Unidos, China e Rússia.
Para contar a história deste meio de transporte ambientalmente correto e de baixo custo e também lançar uma luz para o futuro da mobilidade do meio ambiente, o Movimento Respira São Paulo realiza neste sábado, 23 de abril de 2016, um evento em comemoração aos 67 anos do sistema de trólebus em São Paulo e no Brasil.
No calçadão da Praça Dr. João Mendes, no centro da capital paulista, em frente ao Fórum, a população poderá conferir um trólebus de 1948 restaurado, fotos antigas, trólebus e ônibus a bateria novos. O horário é das 8h às 17h. A exposição é gratuita.
O evento tem apoio da Prefeitura de São Paulo, SPTrans, CET, Ambiental Transportes Urbanos, Viação Gato Preto.
O Movimento Respira São Paulo preparou um resumo que mostra a importância dos trólebus no Brasil e no mundo.
HISTÓRICO DO SISTEMA
Em 22 de abril de 2016 o Sistema de Trólebus comemora 67 anos de existência na cidade de São Paulo.
Foram várias fases do Sistema, envolvendo muitos modelos de trólebus e expansão da rede.
A Frota:
- De 1949 a 1957 – aquisição de 155 trólebus importados.
- De 1958 a 1967 – aquisição de 24 trólebus de primeira geração, fabricados no Brasil.
- De 1963 a 1969 – a CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos) montou seus próprios trólebus em suas oficinas, assegurando a sobrevivência do Sistema na década de 70. Foram 145 veículos.
- De 1979 a 1982 – aquisição de 290 trólebus modernos de segunda geração, fabricados no Brasil, no Programa Nacional de Trólebus, com recursos no Governo Federal.
- De 1985 a 1987 – aquisição de 80 trólebus de terceira geração, fabricados no Brasil.
- De 1996 a 1998 – reforma de 284 trólebus e aquisição de 111 novos veículos brasileiros de quarta geração.
- De 2002 a 2004 – desativação de parte da frota de trólebus, sendo que 37 deles tinham pouco tempo de uso e plenas condições de operação. Outros veículos, apesar da idade, poderiam continuar em operação, bastando uma reforma ou revisão geral.
- De 2008 a 2014 – aquisição de 212 trólebus da quinta geração, fabricados no Brasil, equipados com os mais modernos componentes, similares aos utilizados nos modernos trólebus da Europa. Estes trólebus são equipados com motor de tração de corrente alternada, os quais são mais baratos na aquisição e na manutenção e carroçaria com piso baixo. Cinquenta destes trólebus são dotados de baterias de tração que permitem a operação desconectados da rede aérea em situações de problemas com a rede, falta de energia no circuito ou desvios de tráfego. Esta frota terá uma vida útil até 2025, pelo menos.
As Linhas:
- De 1949 a 1957 – as linhas iniciais serviam os bairros mais nobres, como Aclimação e Pinheiros e algumas substituíram os bondes, como no caso do Jardim Europa e Santana.
- De 1958 a 1969 – expansão para as zonas leste e norte da cidade.
- De 1970 a 1979 – estagnação na quantidade das linhas e experiência de integração na Estação Santana do metrô.
- De 1980 a 1982 – expansão das linhas para a zona leste (Vila Prudente e São Mateus) e norte (Casa Verde) na primeira etapa do Programa de Revitalização do sistema.
- De 1985 a 1987 – expansão das linhas para a zona sul (Santo Amaro) na segunda etapa do Programa de Revitalização do sistema.
- De 1996 a 1998 – reativação do Corredor Rio Branco, criação das três linhas circulares centrais e desenvolvimento do Projeto do VLP – Veículo leve sobre Pneus ao longo do Corredor Sacomã.
- De 2001 a 2003 – desativação de 50% das linhas por motivos políticos e não técnicos.
- De 2011 a 2015 – Renovação de 80% da malha de Rede Aérea com durabilidade para os próximos 10 anos, ao menos.
A tração elétrica no Brasil:
Entre 1900 e 1950 o principal meio de transporte urbano nas cidades brasileiras era por meio da tração elétrica, através dos bondes, que fizeram o papel que os ônibus atuais fazem, transportando a maior quantidade de passageiros.
As principais razões das gradativas desativações destes sistemas foi o desenvolvimento dos ônibus movidos a diesel, sendo uma opção mais barata e imediata do que a renovação da infraestrutura de trilhos e rede aérea e da própria renovação das frotas que eram, na sua maioria, importadas. Outro fator foi o início do declínio do transporte coletivo em favor do transporte individual.
Os trólebus representaram muito pouco na substituição dos bondes.
No Brasil, em 1969, havia onze sistemas de trólebus nas principais capitais e a maioria deles foram desativados na década de 60.
Somente cinco sistemas de trólebus, além de São Paulo que é o pioneiro, foram revitalizados nos anos 80 com o Programa Nacional de Trólebus. O último golpe que ocasionou a desativação de quatro sistemas nas cidades de Araraquara, Recife, Ribeirão Preto e Rio Claro foram os processos de privatização nas concessões de operação das frotas de transporte de passageiros, no final dos anos 90 e início de 2000.
Hoje os Sistemas de Trólebus operam nas cidades de São Paulo, Santos e na região do Grande ABC.
No Corredor Metropolitano de Trólebus da EMTU, no Grande ABC, a infraestrutura elétrica foi revitalizada entre 2009 e 2013 e parte da frota foi renovada. Em Santos, a pequena frota de seis veículos e a malha de rede aérea não tiveram revitalização significativa.
A volta da tração elétrica:
No combate à poluição do ar e sonora a tração elétrica tem sido cada vez mais considerada nas cidades do mundo inteiro. Atualmente existem cerca de 360 sistemas de trólebus no mundo em mais de 40 países e em muitos casos, estão sendo modernizados e ampliados, principalmente nos países da Europa, Estados Unidos, China e Rússia.
Novas tecnologias, tais como o uso de baterias e de super-capacitores tem resolvido o principal problema dos trólebus que são as paralisações devido aos danos na rede aérea ou falta de energia. Estas inovações tecnológicas permitem que os trólebus operem, desconectados da rede, para percorrer curtas ou longas distâncias, tornando-os totalmente eficazes.
Os ônibus movidos por baterias, sem a necessidade do uso de redes aéreas, deverão ser a solução para o transporte de passageiros do futuro, entretanto, um grande desafio é o equacionamento da metodologia de recarregamento das baterias durante a madrugada, enquanto os veículos permanecem recolhidos.
A potência elétrica necessária para a recarga de uma frota numerosa é bastante significativa, com a necessidade de implantação de subestação de grande porte ou então distribuição da frota em várias garagens, dotadas de subestações de capacidades menores.
De qualquer forma, a tração elétrica, tanto para o transporte coletivo ou individual, está voltando a ter importância na luta contra a poluição do ar e melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.
MATERIAL: JORGE FRANÇOZO DE MORAES – RESPIRA SÃO PAULO
ADAMO BAZANI, JORNALISTA ESPECIALIZADO EM TRANSPORTES
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