Gerente executivo de Vendas de Ônibus da MAN Latin America diz ao Diário do Transporte que empresa espera crescimento para este ano, inclusive com alguns negócios pelo Refrota. Fabricante também está alinhada com parceiros nacionais, como Eletra, e estuda alternativas não poluentes
ADAMO BAZANI
Hoje o mercado de ônibus no Brasil tem duas realidades: por um lado, ainda as condições operacionais não são as ideais, com áreas de tráfego difícil e que exigem robustez dos veículos, além da cultura de muitos empresários em preferir a motorização dianteira. De outro lado, entretanto, muitos empresários de ônibus começam a enxergar os passageiros como clientes e tanto os usuários como poder público têm agora um nível maior de exigência.
Antes, na grande mídia, a cobertura da mobilidade urbana era restrita a greves de transportes públicos. Hoje, as discussões ganham mais destaque. A mídia especializada, que sempre militou junto com o setor pela melhoria dos serviços, hoje tem mais vez, voz e tem se tornado mais plural.
Mas como compatibilizar estes dois cenários aparentemente tão opostos? A necessidade de reduzir custos e ainda ter ônibus mais robustos e, ao mesmo tempo, oferecer mais conforto.
“Hoje buscamos conciliar estas duas realidades, com ônibus de motorização dianteira que continuam sendo robustos, mas que oferecem conforto semelhante aos modelos de motor traseiro. É coisa do passado, o ônibus de motor dianteiro gerar muito mais calor e ruído para o motorista e passageiros” – disse em entrevista ao Diário do Transporte, na tarde desta segunda-feira, 28, o gerente executivo de Vendas de Ônibus da MAN Latin America, Jorge Carrer.
Para esta edição da Transpúblico, feira de mobilidade urbana que vai desta terça-feira, 29, até quinta,31, no ExpoTransmérica, na zona Sul de São Paulo, a fabricante apresenta como novidade o modelo 17.260 ODS, ônibus de motor dianteiro, seis cilindros, com suspensão pneumática e 260 cavalos de potência.
E se o modelo seguir o caminho do seu “irmão menor” com suspensão pneumática, o 17.230 ODS, as perspectivas são boas.
“Lançamos há mais ou menos um ano e meio a versão do 17.230 com suspensão pneumática. Neste pouco tempo, esta configuração representa já ¼ das vendas do modelo. Creio que logo, para fretamento, que ainda usa bastante motor dianteiro, a suspensão pneumática será maioria e, em poucos anos, para os urbanos.” – disse Jorge Carrer.
“A suspensão pneumática é muito mais prática e com manutenção mais simples que a suspensão metálica. Hoje os moleiros estão mais difíceis no mercado. O tempo de troca é menor, o conceito construtivo da suspensão pneumática também é mais simplificado e o conforto é bem maior” – enumera o gerente executivo de Vendas de Ônibus da MAN.
MERCADO:
A MAN começa agora a vislumbrar um cenário melhor para o mercado de ônibus, mas ciente das limitações impostas pela atual conjuntura da economia.
Na estimativa de Jorge Carrer, haverá crescimento neste ano, mas sobre uma base ainda muito reduzida e ainda prejudicada pelo desempenho geral do setor de ônibus nos primeiros meses.
“O mercado de ônibus como um todo vem de três anos de queda muito forte. O primeiro trimestre deste ano ainda foi bem ruim. A partir de abril começamos a perceber uma reação, mas tudo em cima de uma base muito pequena, por causa do acumulado de queda. Prevemos para o mercado, um crescimento de 10% nas vendas de ônibus, mas por causa do primeiro trimestre ainda fecharemos algo em torno de 11 mil unidades vendidas entre todas as marcas, muito semelhante a 2016. A MAN tem registrado crescimento e, contando todo o mercado, já estamos próximos do patamar de 20%” – disse Jorge, que admitiu que a MAN perdeu fatias de mercado por não estar presente de maneira significativa em segmentos de urbanos pesados.
“O crescimento de um segmento pode ser benéfico ou prejudicial, dependendo dos produtos oferecidos. Entre urbanos, houve um crescimento recente nos segmentos de articulados, superarticulados e biarticulados, onde ainda não temos presença marcante”
Outro aspecto que, segundo Jorge Carrer, explicaria a perda de participação de mercado da MAN até quase a metade do ano foi o “congelamento” do Programa Caminho da Escola, em 2016, que, diante das instabilidades econômicas e, principalmente políticas, não lançou as licitações de ônibus escolares previstas.
“O Caminho da Escola estava muito tímido, além disso, o ‘bolo’ do programa agora está mais dividido [com outras marcas], mas temos forte presença no FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação” – relatou Jorge.
Os principais produtos da marca hoje são o 9.160 (micro-ônibus), 15.190 (mídis), 17.230 (convencionais), 17.260 (convencionais de maior torque e potência) e, tem ganhado espaço, segundo o executivo, o 18.280 OT de piso baixo.
“O 17.230 é hoje nosso produto de maior venda. É o ônibus mais versátil para os diferentes sistemas, por isso se destaca. Com outros produtos, mas principalmente com o 17230 OD estamos presentes em grandes renovações de frota, como de São Paulo, Juiz de Fora, Recife, Manaus, Florianópolis, Anápolis, e tantas outras cidades”, comentou.
Além dos sinais de recuperação econômica, o executivo aponta outro motivo para um crescimento, mesmo que modesto: a necessidade de renovação diante do envelhecimento maior das frotas.
“Acreditamos que há uma demanda reprimida. Os empresários seguraram até agora, mas por causa de força de contratos, vai ter de haver uma renovação. Os veículos já passaram da idade limite em muitos sistemas. Além disso, estes veículos estão ficando mais velhos e dando mais problemas e custo de manutenção. Fora que, com isso, a disponibilidade da frota diminui”
REFROTA:
Hoje a predominância da atuação da MAN é nos diversos segmentos de ônibus urbanos, que representam mais da metade de todos os tipos de veículos de transporte coletivo vendidos no Brasil.
Por isso, a empresa acompanha de perto os desdobramentos do Refrota 17, que faz parte do Programa de Infraestrutura de Transporte e da Mobilidade Urbana – Pró-Transporte e foi criado para financiar com recursos do FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, as compras de ônibus urbanos novos para estados, municípios e o Distrito Federal, além das próprias concessionárias de transportes públicos.
O Refrota, com pompa, foi anunciado oficialmente pela equipe do presidente Michel Temer em dezembro do ano passado. Os recursos para a linha da Caixa Econômica Federal são de R$ 3 bilhões.
Mas, apesar do anúncio em dezembro de 2016 e apresentação em janeiro deste ano, somente em 12 de junho é que foi assinado o primeiro financiamento. Sem experiência no mercado de ônibus, a Caixa ainda se adaptava à realidade do setor.
Para se ter uma ideia, a Caixa exigia seguro para ônibus urbano, o que não existe no mercado.
O modelo de seguro proposto também era considerado sem vantagem pelos empresários.
A franquia era de 75% do valor do ônibus novo, ou seja, na prática o seguro iria cobrir apenas 25% do valor do veículo. Um ônibus pode ter preços entre R$ 250 mil e R$ 1,2 milhão, dependendo do porte tecnologia e configuração.
Mas, quando todos estes problemas pareciam ter sido resolvidos, mais um entrave encontrado com a primeira (e até agora única) empresa de ônibus que na prática conseguiu a liberação do dinheiro, a Suzantur de Mauá, na Grande São Paulo.
O financiamento é condicionado somente ao número de ônibus estipulados no contrato e não à quantidade de veículos que os recursos liberados podem comprar. Se entre a assinatura do contrato e a liberação do dinheiro, os preços dos chassis e carrocerias aumentarem, a empresa terá de “se virar” para comprar a quantidade estipulada. Foi o que aconteceu com a Suzantur.
Quando apresentou a proposta no início do ano, a Suzantur pediu R$ 30,31 milhões para comprar 100 ônibus, entre mídis e convencionais. Mas quando o dinheiro finalmente saiu, os veículos estavam mais caros e o valor dava para comprar 89 ônibus. Os valores subiram para R$ 33,73 milhões. Ocorre que a Suzantur foi obrigada a comprar os 100. Assim, estes R$ 3 milhões de diferença teve de arcar com os próprios recursos. Relembre o caso:
Jorge Carrer disse que a MAN agora está esperançosa em acertos do Refrota, mas é realista ao analisar que não será o financiamento o principal motivo de os ônibus urbanos começarem a subir a ladeira do mercado.
“O Refrota agora deve entrar numa nova realidade, começar a aparecer, mas continuará sendo mais uma opção, ainda temos o Finame, o CDC. Não é só o Refrota que vai fazer o mercado mudar da água para o vinho”
Jorge revelou ao Diário do Transporte que já negocia com duas empresas que devem receber recursos pelo Refrota.
“Recentemente, estamos com dois clientes que tiveram aprovação de crédito. Ainda estamos em negociação, mas ajudamos estes clientes com documentações e demos todo o apoio necessário”
MEIO AMBIENTE:
O gerente executivo de Vendas de Ônibus da MAN Latin America, Jorge Carrer, também disse ao Diário do Transporte que a empresa acompanha a evolução das tecnologias menos poluentes e participa de reuniões oficiais temáticas.
“A MAN é um grupo mundial forte em produção de veículos, mas ainda a realidade brasileira é bem diferente da Europa, por exemplo, onde há maior engajamento do poder público para estimular as tecnologias alternativas ao diesel. Os veículos devem ter valores acessíveis para as empresas operadoras investirem. No Brasil, analisamos as tecnologias disponíveis e já conversamos com parceiros nacionais” disse Jorge.
Entre estes parceiros está a Eletra, empresa do Grupo ABC, localizada em São Bernardo do Campo, que desenvolve tecnologias para trólebus, ônibus elétricos com bateria e ônibus híbridos.
Com a Eletra, há poucos anos, a MAN desenvolveu um modelo de trólebus, operado na capital paulista, pela Ambiental Transportes.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes
Fonte: Diário do Transporte
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