terça-feira, 25 de julho de 2017

DIA DO MOTORISTA: O impacto da qualidade de vida do motorista em toda a sociedade


Colocar em operação veículos mais modernos, mesmo com motor dianteiro, com melhor ergonomia e nível de calor e ruído reduzidos também auxilia na saúde do motorista, mostra estudo
Segundo OMS, quem dirige ônibus urbano está sujeito a altas cargas de estresse. Empresas que investem em qualidade de vida dos motoristas têm bons retornos e querem ampliar ações
ADAMO BAZANI
Não é exagero nenhum dizer que o motorista é um condutor do progresso.
Muito mais do que guiar veículos, quem dirige profissionalmente tem sob sua responsabilidade bens preciosos para o desenvolvimento da nação, no caso de caminhoneiros, e o que há de mais valor: a vida humana, em especial os motoristas de ônibus.
A profissão de motorista já foi um dos grandes objetivos de muitos garotos e também de meninas. Entretanto, apesar de ainda ser um ofício almejado por muitos, já não desperta tanto desejo de quem está entrando na vida profissional.
Um levantamento de 2015, da CNT – Confederação Nacional do Transporte revela que faltam aproximadamente 50 mil motoristas profissionais no mercado. Os números hoje não são muito diferentes.
A Organização Mundial da Saúde – OMS diz que a função de motorista de ônibus urbano é uma das mais estressantes no Brasil, registrando alto índice de rotatividade e afastamentos por problemas de saúde.
A partir destes dados já se começa a entender o motivo pelo qual faltam profissionais e também porque o ofício perdeu o brilho que tinha nas décadas passadas.
Os problemas de saúde são relacionados principalmente ao estresse, mas também há problemas como ergonomia inadequada, vícios e sedentarismo.
Artigo da psicóloga Rosana Valério Feitoza, especializada em distúrbios psíquicos relacionados às atividades laborais, motra que a saúde do motorista deve ser uma preocupação pública por afetar a qualidade de vida e a segurança de outras pessoas.
Nos dias de hoje o transporte coletivo é considerada uma necessidade primária da população em geral, que diariamente tem que se locomover quer seja para o trabalho, para estudar, para cuidar da saúde e inclusive para o lazer do cidadão. Portanto existe a preocupação com as condições da realidade diária dos condutores destes transportes coletivos.
Um dos fatores importantes é a consequência do stress em motorista de transporte coletivo devido à própria natureza da profissão. Existe um conflito entre fatores das exigências institucionais e populacional que são: Conseguir cumprir as escalas e horários de trabalho, dirigir com segurança e atender bem os passageiros.
A atividade de dirigir não é um ato mecânico, mas envolve uma série de requisitos tais como demonstrar percepção de profundidade, orientação espacial, rapidez de reflexos, senso de responsabilidade, atenção, discriminarem ruídos, além de demandar um bom estado de saúde e equilíbrio emocional (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2009 apud ZANELATO e CALAIS, 2010).

De acordo com Almeida (2002) Os estudos a respeito das condições de trabalho de motoristas no transporte coletivo por ônibus são recentes e em pequena quantidade se comparados a pesquisas com outras categorias profissionais, em sua maioria, procuram estabelecer relação entre as condições de trabalho e o adoecimento.
Em relação ao transporte coletivo, o comportamento de seus operadores é muito importante, pois se trata de atividade essencial à população e de significativa responsabilidade. Falhas no trabalho podem acarretar acidentes que colocam em risco a vida de dezenas de pessoas (ALMEIDA, 2002).
Indica-se que pode haver uma relação entre stress e acidentes de trânsito, na medida em que mais da metade dos acidentes ocorreu no final da jornada de trabalho ou enquanto os motoristas dobravam sua jornada de trabalho, ou seja, alguns acidentes podem ter como causa o cansaço e o stress (CÂMARA, 2002 apud ALMEIDA, 2002).
Na profissão do motorista, os fatores de risco seriam: o contexto de trabalho estressante; a possibilidade de acidente, morte e assalto; conflitos no relacionamento entre motorista e passageiro. Os fatores de proteção seriam estratégias de enfrentamento eficazes, recursos pessoais, apoio social e familiar, reconhecimento e valorização da profissão e relações positivas com os usuários do transporte (ZANELATO e CALAIS, 2010).
Considerando as pesquisas de Zanelato e Calais (2010) a identificação de estressores laborais está relacionada com:
“a) condições do trabalho – carga horária elevada, exposição a assaltos, falta de sanitários, movimentos repetitivos e mecânicos, ruídos e vibrações do motor, baixo reconhecimento social, conflitos com passageiros, pressão para cumprir horário e excesso de paradas durante as viagens; b) condições das vias – asfalto irregular, alagamento, congestionamento e travessia inadequada, tanto de pedestres como de condutores; c) condições climáticas – calor excessivo, incidência de raios solares e chuva; e d) condições do veículo – falhas nos equipamentos e falta de manutenção”.

A violência urbana também é outro fator que aumenta o estresse. Com o crescimento dos ataques a ônibus por criminosos, sejam de quadrilhas organizadas ou bandidos de pouca expressão, o medo que já era presente entre os profissionais agora é ainda maior.
Assim, a qualidade de vida do motorista e, consequentemente, das outras pessoas na cidade depende das empresas de ônibus, em oferecer veículos seguros e bem conservados, boas condições de trabalho e treinamentos adequados, além de respeitar cargas horárias e direitos trabalhistas. Mas não é possível responsabilizar apenas as viações.
Questões como segurança pública, asfaltamento de qualidade, iluminação, redução de poluição, que são atribuições do poder público, também devem fazer parte do conjunto de medidas para melhorar a vida do profissional.
Mas seria um erro dizer que a rotina do motorista só reúne aspectos negativos.
Há também pontos como trabalhar com a liberdade que não se tem num ambiente confinado, como um escritório ou uma repartição, conhecer várias pessoas, estar antenado em tudo que acontece nas cidades e, sim, há motoristas busólogos, apaixonados por ônibus. Há caminhoneiros que amam os burtos.
Muitos trabalham como motorista porque foi a opção que conseguiram. Mas a maioria, por ser apaixonada por transportes e pessoas.
Valorizar o profissional é pensar acima de tudo no lado humano, mas também significa ter bons retornos de produtividade e financeiros.
Atualmente diversas empresas de ônibus investem em medicina do sono, possuem treinamentos voltados não apenas à condução, mas à qualidade de vida; oferecem programas que permitem acesso a psicólogos, acupunturistas, massagistas, fisioterapeutas, médicos e nutricionistas dentro da garagem ou terminais, entre outras ações. Todas estas empresas acabam tendo diferenciais de qualidade na prestação de serviços.
Estes diferenciais resultam em redução do número de reclamações dos passageiros, menor consumo de combustível, dirigibilidade mais adequada, melhorando assim a condição do ônibus e reduzindo os custos de manutenção. Acima de tudo, porém, se o motorista estiver bem, o atendimento aos clientes, que são os passageiros, tende a melhorar.
As empresas que tomam estas medidas, além das exigências legais, humanizando as relações trabalhistas, até hoje só ganharam e querem ampliar os programas de qualidade de vida.
Já a realidade do caminhoneiro pode variar. Alguns conseguem manter uma  relativa qualidade de vida, mas com estradas ruins, fretes cada vez menores, assaltos e a necessidade de trabalhar muitas horas para o negócio valer a pena, tem provocado diversos transtornos para os motoristas, que refletem em problemas graves de saúde.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

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