Corredor de BRT do Rio, construído para os Jogos Olímpicos Rio 2016, foi avaliado pelo “Padrão de Qualidade BRT” do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP, da sigla em inglês para Institute for Transportation and Development Policy)
ALEXANDRE PELEGI
Inaugurado na manhã de um sábado, dia 9 de julho de 2016, a Transolímpica foi a primeira via expressa do Rio com corredor exclusivo BRT. Entrou em operação comercial no mês seguinte, como parte dos compromissos da cidade para sediar os Jogos Olímpicos Rio 2016.
Apresentado como um dos principais legados da Olimpíada no campo da mobilidade urbana, o BRT Transolímpica tem 26 km de extensão, cruza 11 bairros da Zona Oeste do Rio, e liga o Parque Olímpico, na região da Barra, ao Complexo Esportivo de Marechal Deodoro. Além disso, o corredor se integra à rede de transporte público sobre trilhos da cidade: a estação terminal Jardim Oceânico do metrô é atendida por uma de suas linhas (Sulacap – Salvador Allende) e há também integração física entre duas de suas estações e as estações de trem Magalhães Bastos e Vila Militar.
Em avaliação feita pelo ITDP Brasil, de acordo com os critérios e métricas que qualificam um corredor de transporte por ônibus como BRT, o corredor recebeu o selo prata do Padrão de Qualidade BRT.
O ITDP é uma entidade sem fins lucrativos que promove o transporte sustentável e equitativo no mundo, concentrando esforços para reduzir as emissões de carbono, poluição atmosférica, ocorrências de trânsito e a desigualdade social.
Para a avaliação do TransOlímpica os técnicos do ITDP realizaram visitas de campo entre março e maio deste ano, onde identificaram boas práticas e oportunidade de melhoria.
Segundo o organismo internacional, o “Padrão de Qualidade BRT” permite avaliar o projeto e a operação do corredor com base em práticas internacionais documentadas e disseminadas por um Comitê Técnico internacional de especialistas no tema.
AVALIAÇÃO:
Um dos primeiros pontos destacados na avaliação do ITDP foi a localização do corredor TransOlímpica. Ele foi construído em uma área ainda com baixo adensamento populacional, onde cerca de 1,4% da população se encontra a 1 km das estações. Para percorrer essa distância são necessários de 10 a 15 minutos de caminhada, avalia o relatório.
O ITDP destaca também, ainda no quesito localização, que parte da extensão do corredor foi inserida em paralelo a uma nova via expressa elevada (Via Rio), “o que dificulta a adesão à nova opção de deslocamento por transporte público por parte da população que mora nas proximidades”. São pontos que explicam o fato da baixa adesão ao corredor TransOlímpica, que tem transportado atualmente apenas um terço da demanda prevista, de 70 mil usuários/dia.
Outros pontos citados referem-se à infraestrutura, em que alguns elementos não foram concluídos, como a ampliação do terminal de Deodoro e a inserção de uma alça de ligação direta entre o TransOlímpica e o BRT TransOeste. Isso tem dificultado a vida dos passageiros. O relatório cita o caso do terminal Deodoro, em que passageiros vindos da região metropolitana no sistema de trens são obrigados a estender seus trajetos até Vila Militar ou Magalhães Bastos para poder efetuar a integração com o BRT.
No terminal do Recreio, informa o relatório, “os passageiros do BRT TransOlímpica que querem integrar com o corredor de BRT TransOeste devem percorrer um trajeto a pé e sem cobertura, até a estação Salvador Allende, prejudicando o conforto da viagem e subutilizando o terminal Recreio”.
PONTOS POSITIVOS: PLANEJAMENTO DE SERVIÇOS, PAVIMENTO E FAIXAS DE ULTRAPASSAGEM
O relatório indica como ponto positivo o planejamento de serviços. “O corredor oferece, além das linhas que percorrem o corredor inteiro, outras que acessam partes dos corredores de BRT TransCarioca (linha Madureira x Terminal do Recreio) e BRT TransOeste (linha Jardim Oceânico x Sulacap). Estas múltiplas linhas se complementam e permitem uma maior integração entre os corredores do sistema de BRT, além de facilitar o acesso a diferentes partes da cidade”.
A infraestrutura do corredor é outro destaque positivo, com a adoção de pavimento em concreto de alta qualidade e a presença de faixas de ultrapassagem nas estações. São fatores que permitem maiores velocidades operacionais e operação de serviços expressos, ocasionando um tempo menor de viagens. Além disso, caso a demanda aumente, o TransOlímpica tem espaço para aumentar sua capacidade de transporte.
PONTOS NEGATIVOS PARA QUEM CAMINHA OU USA BICICLETA:
A avaliação do BRT TransOlímpica destaca pontos que devem ser melhorados, com ênfase aos acessos por bicicleta e a pé. A infraestrutura de acesso e estacionamento para bicicletas é incipiente, a rede cicloviária é descontinuada em alguns trechos, além de ser interrompida em vias transversais ao corredor.
Além disso, o corredor apresenta apenas uma estação de bicicleta compartilhada, próxima ao Terminal do Recreio.
“Uma infraestrutura de acesso e de estacionamento adequada para bicicletas e a presença de sistemas de bicicletas compartilhadas nas estações garantiria conforto e segurança para os usuários que já realizam parte do caminho de bicicleta e criaria também uma outra opção para os usuários acessarem seus destinos finais, o que potencialmente aumentaria a cobertura do sistema”, sugere o ITDP.
Quanto ao acesso às estações para pedestres, o relatório destaca que precisa ser aprimorado. “A maioria dos acessos no trecho em via elevada é desconfortável aos usuários, por obrigá-los a percorrer um caminho a céu aberto sujeito a intempéries em uma distância razoável para caminhada”.
CONCLUSÃO:
Na avaliação completa feita pelo ITDP o corredor de BRT TransOlímpica recebeu o selo Prata. Outros corredores que receberam a mesma chancela: o sistema Expresso Tiradentes (São Paulo); o BRT Antônio Carlos (BH); alguns corredores da cidade do México e de Ahmedabad na Índia; e os corredores de Brisbane, Austrália e Istambul, na Turquia.
O ITDP está no Brasil desde 2009, com escritório no Rio de Janeiro. O órgão possui atuação nacional, inspirada pelos oito princípios do Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável (DOTS), que estimula uma ocupação compacta e com uso misto do solo, com distâncias curtas para trajetos a pé e próxima a estações de transporte de alta capacidade. São eles: caminhar, usar bicicletas, conectar, usar transporte público, promover mudanças, adensar, misturar e compactar.
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transporte
Fonte: Diário do Transporte
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