
Corredor de BRT do Rio, construído para os Jogos Olímpicos Rio 2016, foi avaliado pelo “Padrão de Qualidade BRT” do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP, da sigla em inglês para Institute for Transportation and Development Policy)
ALEXANDRE PELEGI

Apresentado como um dos principais legados da Olimpíada no campo da mobilidade urbana, o BRT Transolímpica tem 26 km de extensão, cruza 11 bairros da Zona Oeste do Rio, e liga o Parque Olímpico, na região da Barra, ao Complexo Esportivo de Marechal Deodoro. Além disso, o corredor se integra à rede de transporte público sobre trilhos da cidade: a estação terminal Jardim Oceânico do metrô é atendida por uma de suas linhas (Sulacap – Salvador Allende) e há também integração física entre duas de suas estações e as estações de trem Magalhães Bastos e Vila Militar.
Em avaliação feita pelo ITDP Brasil, de acordo com os critérios e métricas que qualificam um corredor de transporte por ônibus como BRT, o corredor recebeu o selo prata do Padrão de Qualidade BRT.
O ITDP é uma entidade sem fins lucrativos que promove o transporte sustentável e equitativo no mundo, concentrando esforços para reduzir as emissões de carbono, poluição atmosférica, ocorrências de trânsito e a desigualdade social.
Para a avaliação do TransOlímpica os técnicos do ITDP realizaram visitas de campo entre março e maio deste ano, onde identificaram boas práticas e oportunidade de melhoria.
Segundo o organismo internacional, o “Padrão de Qualidade BRT” permite avaliar o projeto e a operação do corredor com base em práticas internacionais documentadas e disseminadas por um Comitê Técnico internacional de especialistas no tema.
AVALIAÇÃO:

Um dos primeiros pontos destacados na avaliação do ITDP foi a localização do corredor TransOlímpica. Ele foi construído em uma área ainda com baixo adensamento populacional, onde cerca de 1,4% da população se encontra a 1 km das estações. Para percorrer essa distância são necessários de 10 a 15 minutos de caminhada, avalia o relatório.
O ITDP destaca também, ainda no quesito localização, que parte da extensão do corredor foi inserida em paralelo a uma nova via expressa elevada (Via Rio), “o que dificulta a adesão à nova opção de deslocamento por transporte público por parte da população que mora nas proximidades”. São pontos que explicam o fato da baixa adesão ao corredor TransOlímpica, que tem transportado atualmente apenas um terço da demanda prevista, de 70 mil usuários/dia.
Outros pontos citados referem-se à infraestrutura, em que alguns elementos não foram concluídos, como a ampliação do terminal de Deodoro e a inserção de uma alça de ligação direta entre o TransOlímpica e o BRT TransOeste. Isso tem dificultado a vida dos passageiros. O relatório cita o caso do terminal Deodoro, em que passageiros vindos da região metropolitana no sistema de trens são obrigados a estender seus trajetos até Vila Militar ou Magalhães Bastos para poder efetuar a integração com o BRT.
No terminal do Recreio, informa o relatório, “os passageiros do BRT TransOlímpica que querem integrar com o corredor de BRT TransOeste devem percorrer um trajeto a pé e sem cobertura, até a estação Salvador Allende, prejudicando o conforto da viagem e subutilizando o terminal Recreio”.
PONTOS POSITIVOS: PLANEJAMENTO DE SERVIÇOS, PAVIMENTO E FAIXAS DE ULTRAPASSAGEM

A infraestrutura do corredor é outro destaque positivo, com a adoção de pavimento em concreto de alta qualidade e a presença de faixas de ultrapassagem nas estações. São fatores que permitem maiores velocidades operacionais e operação de serviços expressos, ocasionando um tempo menor de viagens. Além disso, caso a demanda aumente, o TransOlímpica tem espaço para aumentar sua capacidade de transporte.
PONTOS NEGATIVOS PARA QUEM CAMINHA OU USA BICICLETA:
A avaliação do BRT TransOlímpica destaca pontos que devem ser melhorados, com ênfase aos acessos por bicicleta e a pé. A infraestrutura de acesso e estacionamento para bicicletas é incipiente, a rede cicloviária é descontinuada em alguns trechos, além de ser interrompida em vias transversais ao corredor.
Além disso, o corredor apresenta apenas uma estação de bicicleta compartilhada, próxima ao Terminal do Recreio.

Quanto ao acesso às estações para pedestres, o relatório destaca que precisa ser aprimorado. “A maioria dos acessos no trecho em via elevada é desconfortável aos usuários, por obrigá-los a percorrer um caminho a céu aberto sujeito a intempéries em uma distância razoável para caminhada”.
CONCLUSÃO:
Na avaliação completa feita pelo ITDP o corredor de BRT TransOlímpica recebeu o selo Prata. Outros corredores que receberam a mesma chancela: o sistema Expresso Tiradentes (São Paulo); o BRT Antônio Carlos (BH); alguns corredores da cidade do México e de Ahmedabad na Índia; e os corredores de Brisbane, Austrália e Istambul, na Turquia.
O ITDP está no Brasil desde 2009, com escritório no Rio de Janeiro. O órgão possui atuação nacional, inspirada pelos oito princípios do Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável (DOTS), que estimula uma ocupação compacta e com uso misto do solo, com distâncias curtas para trajetos a pé e próxima a estações de transporte de alta capacidade. São eles: caminhar, usar bicicletas, conectar, usar transporte público, promover mudanças, adensar, misturar e compactar.
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transporte
Fonte: Diário do Transporte
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